sexta-feira, 9 de setembro de 2011

CARTA ABERTA À PRESIDENTA DILMA SOBRE A GREVE DOS PROFESSORES MG


E
xcelentíssima Senhora Presidenta da República, escrevo com o objetivo de pedir vossa intervenção a favor dos Professores de Minas Gerais em greve há mais de 80 dias, ante ao impasse promovido pelo Sr.Governador Anastásia que simplesmente ignorou a decisão do STF que nos garante o direito ao piso salarial .

Ao mesmo tempo, há intensas e permanentes ameaças de dispensas e contratações de pessoas não habilitadas para lecionar em substituição aos titulares em greve.  Também está sendo orquestrado com o Ministério Público Estadual, decisão judicial para tornar nossa mobilização ilegal – o que certamente será anunciado em breve. Entre as ameaças há o anúncio do governo em substituir os professores por educação via TV - Rede Minas e como se não bastasse, o governo após 80 dias nos apresenta uma pseudo proposta de negociação que significa a metade do piso de direito, (R$ 712,00), isso para todos os professores independente de nível de formação e tempo de serviço de cada professor, o que está em desacordo com a lei do piso.

Na condição de cidadão comprometido e Professor entusiasta da educação, que a entende como meio fundamental para a construção de uma nação de sujeitos éticos, com consciência cidadã e humanamente desenvolvido, alerto para as conseqüências danosas ao nosso povo e a categoria dos professores - principais agentes condutores dessa formação humanística - caso não haja uma ação urgente que remova a intransigência gratuita do Sr. Governador.

Com o sucateamento sistemático dos salários e condições de vida e sobrevivência de nossa categoria, (em Minas o salário base do professor é de - R$ 396,00) não haverá outra saída senão o abandono da profissão como já indica pesquisas específicas, com o conseqüente fechamento de cursos de Licenciatura de conceituadas Universidades - como também está ocorrendo neste momento. Deste modo, a educação e a docência, ação e prática nobres, de primeira grandeza social e humanizador, correm o risco real de ficarem a cargo de aventureiros, sendo usadas como fontes de intera salarial, um “bico”, como se diz no vulgo. – Alias o que também vem ocorrendo e aumentando a cada ano em Minas.

Outro ponto grave é a contratação de pessoas NÃO HABILITADAS para lecionar. - Ainda que esta medida seja defendida pelo Exmo. Ministro da Educação, esta prática é niilista e nefasta à qualidade da educação. Há muito, Minas vem praticando por este instrumento, interpretado por alguns como meramente administrativo, a desqualificação do professor habilitado, que dedicou e dedica anos de sua vida na formação em Licenciatura e Pedagogia. Sistematicamente professores habilitados são substituídos ou não encontram vagas, pois muitas estão ocupadas por profissionais de áreas exógenas, estranhas à Educação.

Esta situação compromete substancialmente a qualidade da educação em Minas e gera uma situação de risco na relação professor (a) /aluno (a), adulto/adolescente, pois, sabemos que a especificidade da relação intersubjetiva entre estes entes do processo de ensino/aprendizagem escolar, exige do adulto uma base ética, comportamental e psicológica de grande responsabilidade, adquirida principalmente pela formação específica em licenciatura, pedagógica, psicopedagoga, didática e outras, que no conjunto, teoria e prática, é o que o habilita a lecionar.

Portanto, contratação de não habilitados não é apenas uma questão administrativa. Acaso, o Sr. Governador e o Sr. Ministro aceitariam fazer uma cirurgia com um cirurgião não habilitado? Aceitariam embarcar em avião conduzido por “piloto” não habilitado? Contratariam motoristas não habilitados? Será que matriculariam seus filhos e filhas em escolas cujos professores não são habilitados?

Pois bem, como o Governo de Minas e o  MEC poderão promover a alardeada qualidade da educação com este descaso com a dignidade profissional do professor? Como promover a melhoria do ensino com esta desqualificação do prestígio social e profissional do professor? E por fim, como ser respeitado por nossos alunos e se manter na docência com a precarização  continuada da condição de vida e da auto-estima profissional do professor? Não há como! Assim como não é possível negar à sociedade esta realidade. Com estas ações o governo decreta a miserabilidade do professor e a falência da educação publica em Minas Gerais. Na tentativa de impedir este quadro que já se encontra em curso, faço este apelo a chefe maior da nação.

Westerley Santos
Prof./Filósofo





Caros amigos do Sindute-MG,


Tudo bom? Meu nome é Anelise Coelho, sou Mestranda em história pela UFMG e me formei pela mesma instituição. Tenho participado de todas as manifestações e apoio integralmente o movimento dos professores. Não sou filiada a nenhum partido político, não leciono na rede estadual, entretanto, como cidadã brasileira eu me sinto na obrigação de defender o movimento dos ataques caluniosos e vergonhosos da mídia mineira e do governo do estado. Em solidariedade ao movimento estou entrando em contato com todos os meus amigos, colegas, com o DCE da UFMG e com demais DAs e CAs em busca de um grande apoio à próxima manifestação. Estamos fazendo faixas e faremos de tudo para não deixar a chama do movimento morrer. Não dessitam, o que vocês estão fazendo é digno do louvor!


Acho que uma coisa poderia ser feita diferente dessa vez, ao invés de parar o trânsito a gente poderia ficar na margem das maiores avenidas de BH, de mão dadas, na lateral da pista, para que os motoristas vejam a união dos professores e para que a mídia não possa bater nesse assunto mais uma vez. Bom, isso é só uma sugestão. Saibam que a grande maioria da população está com vocês!


Todo o meu apoio,


Anelise Coelho
Manifesto dos professores e professoras da faculdade de educação da UFMG em apoio a greve dos profissionais da educação da rede estadual da educação


  Como professores e professoras da Faculdade de Educação da UFMG, manifestamos nossa solidariedade com o movimento dos professores/professoras da Educação Básica do Estado de Minas Gerais.
Nas últimas décadas, a Faculdade de Educação e a UFMG como um todo têm contribuído junto com outros centros de formação para o aumento da qualificação docente, pedagógica, da educação básica. Entretanto, a qualidade dos postos de trabalho não melhorou no mesmo ritmo comprometendo a qualificação dos professores e a qualidade da educação. Estaríamos negando a função formadora da universidade se não apoiássemos as lutas legítimas dos professores por condições dignas e justas de exercer a formação recebida.
Entendemos que não falta qualificação profissional aos docentes, falta qualidade de condições de trabalho. Somos testemunhas, como professores da universidade, que não faltam por parte dos professores das escolas públicas esforços pessoais e coletivos por garantir seu direito à formação e por se qualificar em cursos de graduação, especialização, pós-graduação e de formação continuada. Porém, a elevação de sua qualificação não tem correspondido à qualificação dos postos e das condições de trabalho e a correspondente elevação dos salários. Ainda, os professores da educação básica são aqueles pior remunerados entre os profissionais da administração pública, mesmo que possuam idênticos níveis de qualificação.
Defendemos como legítimas suas lutas por melhores condições de trabalho e por um piso salarial básico justo, conquistado como direito nacional e exigido por lei como obrigação do Estado e governos de cada ente federado.
Como professores da Faculdade de Educação da UFMG, reconhecemos a história de mais de 30 anos de luta do movimento docente por reconhecimento dos trabalhadores em educação como sujeito de direitos. A consciência de sermos trabalhadores em educação básica ou superior tem significado um avanço histórico para a docência e, particularmente, para a educação, que passamos a defender como um dos campos privilegiados de direitos e, não um território de favores e barganhas políticas.
Reconhecemos que este é um dos sentidos políticos das lutas históricas do movimento docente: avançar no reconhecimento da educação como campo de direitos e, consequentemente, exigir do Estado e dos governantes seu dever de implementar políticas públicas que garantam a educação como direito público. Reconhecemos o movimento docente como o sujeito político que mais tem contribuído pela afirmação de nosso sistema educacional público como garantia do direito à educação dos trabalhadores e dos setores populares. Esse movimento vem tornando o sistema escolar mais público. Espaço de direitos. Reconhecemos as lutas dos professores como parte das lutas históricas das famílias e dos movimentos sociais.
Contrapor o direito dos professores a trabalho digno e a um justo salário básico ao direito das famílias e dos seus filhos a uma educação de qualidade é uma irresponsabilidade política a ser denunciada. Em mais de 30 anos de luta, o movimento docente vem defendendo a educação como direito de todo cidadão e dever do Estado. São mais de três décadas de solidariedade política entre os professores, seu movimento docente e a diversidade de movimentos sociais que lutam por reconhecimento. Solidariedade constituída na luta para que o Estado cumpra seu dever público Estado de direito.
A consciência do povo a seu direito à educação pública básica ou superior tem avançado de maneira mais rápida do que a consciência e a prática do Estado e dos governantes a cumprir seu dever público de construção de um sistema de educação. Estamos em tempos de avanço da consciência do direito à educação, terra, moradia, trabalho, justiça, igualdade. Consequentemente, estamos em tempos de solidariedade por pressionar o Estado, seus governantes para cumprir com urgência o seu dever de garantir essa pluralidade de direitos às famílias populares e aos trabalhadores.
As famílias populares sabem de seus esforços por garantir o direito de seus filhos à escola, à educação, ao conhecimento e à cultura. Lutam pela escola, mas sabem por experiência que a escola que tem direito exige o trabalho de profissionais em condições de cuidar, proteger, formar e tratar com dignidade seus filhos. As famílias populares construíram uma imagem positiva dos educadores e educadoras dos seus filhos. Os valorizam e com eles são solidários nas lutas por direitos pois sabem que professores quando negados em seus direitos não terão condições de garantir os direitos de seus filhos.
Ao longo das últimas décadas, foram sendo construídas novas solidariedades políticas entre o movimento docente, as comunidades de famílias populares e seus movimentos sociais em lutas comuns por direitos à escola, ao trabalho, à moradia, à terra, ao transporte.
Condenar os professores e seu movimento é uma forma de adiar seu reconhecimento como trabalhadores sujeitos de direitos, énegar a constituição de um Estado de direito e inviabilizar a conformação de nosso sistema educacional como espaço público.
Tentar contrapor o direito das famílias e seus filhos às legítimas lutas dos professores pela garantia de seus direitos é uma perversa e retrógada estratégia que merece repúdio de quem defende o estado de direito.
Merecem repúdio as estratégias que pretendem quebrar essa solidariedade. Compromisso será reforçá-la. A sorte do direito popular à educação é inseparável da sorte, do avanço, da garantia de direitos dos trabalhadores à educação. Por essas lutas estamos solidários.
Assim os seguintes professores e professoras da Faculdade de Educação da UFMG 
Ademilson de Sousa Moraes
Adla Netsaida Martins Teixeira
Adriana Maria Cancella Duarte
Amarílis Coelho Coragem
Ana Lydia Bezerra Santiago
Ana Maria Rabelo Gomes
Andrea Moreno
Antonio Augusto Gomes Batista
Antonio Júlio de Menezes Neto
Bernardo Jefferson  Oliveira
Carlos Augusto Novais
Carlos Eduardo Mazzeto Silva
Carmem Lúcia Eiterer
Célia Abicalil Belmiro
Cláudio M. M. Nogueira
Conceição C. Xavier
Cynthia Greive Veiga
Daisy Moreira Cunha
Dalila Andrade Oliveira
Eduardo Fleury Mortimer
Elizabeth Guzzo de Almeida
Geraldo magela Pereira Leão
Hormindo Pereira de Souza Júnior
Inês Assunção de Castro Teixeira
Isabel de Oliveira e Silva
Iza Rodrigues da Luz
José Raimundo Lisbôa da Costa
José Simões de Almeida Júnior
Juarez Melgaço Valadares
Juarez Tarcísio Dayrell
Júnia Sales Pereira
Leôncio José Gomes Soares
Licínia Maria Corrêa
Lívia Maria Fraga Vieira
Lúcia Helena Alvarez Leite
Luciano Mendes Faria Filho
Luis Roberto de Paula
Marcelo Ricardo Pereira
Marco Antônio F. Scarassatti
Marcos Vinícius Bortolus / Escola de Engenharia da UFMG
Maria Amália de Almeida Cunha
Maria Aparecida Paiva Soares Santos
Maria Cristina S. Gouvêa
Maria de Fátima Almeida Martins
Maria de Fátima C. Gomes
Maria Emília Caixeta de Castro Lima
Maria Gorete Neto
Maria Isabel Antunes Rocha
Maria José Braga
Maria Manuela Nartins Soares David
Maria Rosimary Soares dos Santos
Maria Teresa Gonzaga Alves
Maria Zélia Versiani Machado
Marina de Lima Tavares
Marisa Ribeiro Teixeira Duarte
Marlucy Alves Paraíso
Miguel Gonzáles Arroyo
Míria Gomesde Oliveira
Miriam Lúcia dos Santos Jorge
Mônica Ângela de A. Meyer
Mônica Correia Baptista
Mônica Yumi Jinzenji
Nilma Lino Gomes
Nilma Soares da Silva
Orlando G. de Aguiar Júnior
Pablo Luiz de Oliveira Lima
Paulo Henrique Queiroz Nogueira
Paulo roberto Maia Figueiredo
Priscila Augusta Lima
Regina Célia Passos Ribeiro Campos
Rogério
Rogério Correa da Silva
Rosilene Horta Tavares
Rosimar de Fátima Oliveira
Samira Zaidan
Sara Mourão Monteiro
Savana Diniz Gomes Melo
Sérgio Dias Cirino
Shirley Aparecida de Miranda
Tânia de Freitas Resende
Teresinha Fumi Kawasaki
Vanessa Senna Tomaz
Wagner Ahmad Auarek
Wemerson de Amorim

Walter Ude
  
"Todo o meu apoio ao professorado Mineiro por um salário digno e por melhores condições de trabalho.
 Educação de qualidade é a mais importante REVOLUÇÃO para tirar o Brasil do atraso e torná-lo uma nação soberana independente.
 Salário não é ESMOLA,
 ESCOLA  não é sucata,
 Aluno não é COBAIA.
 Minha SOLIDARIEDADE ENCORAJADORA!"
 Frei Betto

Manifestações de poio à Greve



Leonardo Boff   (Veja o vídeo ao lado)

Estou estarrecido face à insensibilidade do Governador Anastasia face a uma greve dos professores e professoras por tanto tempo.
Ele precisa ser inimigo de sua própria humanidade para fazer isso.
Ele não ama as crianças, não respeita seus pais, despreza uma classe de trabalhadores e trabalhadoras das mais dignas da sociedade, aquelas pessoas a quem nós confiamos nossos filhos e filhas para que recebam
educação e aprendam a respeitar os outros e a acatar as autoridades que foram eleitas para cuidar dos cidadãos.
Essa intolerância mostra falta de coração e de compaixão no sentido mais nobre desta virtude que é sentir a necessidade do outro, colocar-se ao seu lado para aliviar seu padecimento e resgatar a justiça mínima de um salário necessário para a vida.
Recordo as palavras da revelação consignadas no livro do Eclesiástico capitulo 34 versículo 27:”Derrama sangue, quem priva o assalariado de seu salário". Não queremos um governador que aceita derramar sangue por não querer ceder nada aos professores e professoras que pedem o que é minimamente certo e justo.
Quero me solidarizar com todos vocês e apoiar as revindicações que estão formulando.
Com meus melhores votos e também preces diante dAquele que sempre escuta o grito dos oprimidos e injustiçados.
Leonardo Boff
Teólogo e escritor