quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Para que serve a Filosofia?

 



PARA QUE SERVE A FILOSOFIA?

DIÁLOGO

ENTRE O CÉTICO E O FILÓSOFO

 

O cético é aquele que não acredita em nada, ou melhor; é aquele que duvida de tudo. Diferente do filósofo que duvida para descobrir a verdade, o cético duvida simplesmente porque não acredita na verdade.

 ... um certo dia o cético encontrou com o filósofo e logo foi lhe perguntando com um ar cético:

 Cético: - Diga-me, meu caro filósofo!  Para que serve a Filosofia?

 Filósofo—- Bem! Se, o sentido do termo “servir” que empregas, for o mesmo que útil, devo dizer-lhe que a Filosofia não serve para nada.

 Cético -  Eu já desconfiava!

 Filósofo – É que a Filosofia, não é uma Ciência (saber técnico) voltada para as utilidades, para os resultados instrumentais, construção de objetos ou para como as coisas acontecem, ela não é um juízo dos fatos.  A Filosofia é um juízo dos valores, é a Ciência das necessidades humanas.

 Cético – Começou! O que quer dizer isso?

Filósofo - É a busca do sentido das coisas, das causas e origens, dos meios e finalidades universais do homem e do mundo, ela é a busca do princípio uno de todas as coisas, da essência e não da aparência, da verdade e não da ideologia.

 - Dizia Aristóteles: (...) todas as outras ciências serão mais preferíveis que esta, mas nenhuma lhe será superior. ”

 Cético ­- E por que os filósofos usam palavras tão difíceis?

Filósofo – Não é que preferimos usar palavras difíceis, é que a filosofia é um pensar radical, que vai as raízes das coisas, em busca da verdade, sendo assim, as palavras usadas, devem expressar exatamente aquilo que é, e não outra coisa parecida.  Além do mais, palavras expressam conceitos e conceitos expressam idéias, sendo assim, não se pode usar quaisquer palavras para expressar uma ideia, pois, se corre o risco de passar conceitos e ideias falsas, e isso seria impreciso, logo; diferente do que a coisa é. 

           “ Alguém já disse que “iniciar na filosofia é aceitar o desafio das palavras” 

 Cético — E qual é a definição de Filosofia?

Filósofo —- Muitos em 2.500 anos de existência da Filosofia já tentaram responder a esta questão, e nenhum conseguiu expressar em um conceito, o todo que a Filosofia é. Admitem alguns que a Filosofia é um saber verdadeiro que deve ser usado em benefício dos homens... outros a consideram um estudo da sabedoria, do conhecimento perfeito de todas as coisas humanas...

 Outros ainda, que a Filosofia é o conhecimento que a razão adquire de si mesma para saber o que pode conhecer e o que pode fazer rumo à felicidade humana.

 Há também quem a defina como um saber, que deve ser posto em prática na transformação do mundo a fim de alcançar justiça e felicidade, um despertar para ver e mudar nosso mundo.

Aristóteles dizia que filosofar é uma necessidade humana e portanto, inevitável.

Por fim, há aqueles que a define como um caminho árduo e difícil, mas que pode ser percorrido por todos, se desejarem a liberdade e a felicidade.  O certo é que todos esses conceitos acabam por reduzir o verdadeiro significado da Filosofia.

Mas, para simplifica, digo que a Filosofia é um reaprender a ler o mundo em suas letras mais miúdas, interpretando e revelando as verdades mais ocultas desse texto cósmico, a fim de provocar nos homens, o despertar da sua própria consciência. .

  - A Filosofia não é outra coisa, senão, um entregar-se por completo as nossas próprias reminiscências*.(*lembranças da alma, memórias do espírito- Platão)

 

 Cético – E o que estuda a Filosofia?

 Filósofo – Bom! Suas perguntas exigem respostas longas. – Vamos lá: diferente das Ciências que estudam aspectos ou partes de uma realidade, a Filosofia, que não é uma ciência, estuda o todo,  sua pretensão é investigar e compreender a totalidade das coisas, por isso, dizem ser a Filosofia a mãe de todas as ciências, ela é um estudo universal.

Entendido isso, digo que a Filosofia estuda a lógica; que se ocupa com o problema da exatidão do raciocínio, mas não só, ela estuda também:

 A epistemologia; que se ocupa com o problema do conhecimento, a metafísica; que cuida dos fundamentos últimos de todas as coisas, a cosmologia; que investiga a constituição essencial das coisas materiais, a psicologia; que cuida da natureza humana e de suas faculdades mentais, a teodicéia; ou seja o problema religioso, da existência e natureza do divino,  a ética; da origem e natureza da moral, da virtude, do bem e da felicidade, da antiviolência, a política;  origem e estrutura do Estado, e do convívio humano em sociedade,  a estética; o problema do belo, da natureza e da arte,  a antropologia; o problema do pensar e fazer histórico e cultural do homem no mundo...e por fim, a cultura, a linguagem e a axiologia; que é o problema dos valores e princípios humanos. Resumindo é isso! 

 Cético - Mas, o que pretende a Filosofia afinal?

 Filósofo — A Filosofia não pretende outra coisa, senão, fazer com que o homem compreenda e    conheça primeiro a si mesmo, o outro, o mundo, o transcendente e as relações objetivas e subjetivas existentes entre eles. Em outros termos; ela pretende conhecer os princípios e finalidades do homem, do mundo físico e metafísico (para além do físico) para descobrir o sentido da existência de tudo isso.

.  Cético -- Mas, de que modo a Filosofia poderia alcançar esses conhecimentos?

 Filósofo – Pela investigação, a busca na raiz de todas as coisas, pela leitura do todo, pela      interpretação crítica; não só do que está escrito, mas do que está dito e escondido nas entrelinhas desse texto chamado mundo...pela perturbação; causada pelo aparentemente normal, e pela problematização; do óbvio, do comum, do habitual, do cotidiano... pela dúvida crítica, pelo abandono de todo dogmatismo e ceticismo, em fim, pela busca da verdade oculta sob toda ideologia e ignorância.

  Já dizia Jean-Jacques Rousseau: “A filosofia é a condição que o homem precisa para saber observar uma vez, tudo que tem visto todos os dias”

 Cético - Mas, acaso a filosofia dispõe de instrumentos capazes de leva-la a essa finalidade?

Filósofo – Certamente! O instrumento da Filosofia é o exercício do Filosofar. E o Filosofar não é outra coisa senão a capacidade de admirar-se com o que lhe aparece diante dos olhos, é a observação demorada, é o ato de perguntar, de indagar sobre o que é? Por quê é? Como é? Para quê é ? Sobre todas as coisas. Filosofar é colocar a razão crítica à serviço do pensamento, em busca do entendimento lógico da coisa pensada. É o ato de fazer juízos corretos de valor, de reflexão, de abstrai-se, de pensar o pensamento pensado e ressignificá-lo. E por fim, fazer uso da palavra; reverberar! Expressar o resultado alcançado, abrindo para um nov

“A Filosofia surge do diálogo, da reflexão das situações vividas! ”

 Cético — E para quê a filosofia pretende conhecer o homem, o mundo e o transcendente?

Filósofo - O transcendente, para compreender o mistério, a origem e as causas, princípio e fim de todas as coisas que estão para além do mundo físico; - o homem, para entender a finalidade de sua existência-no-mundo; e o mundo, para saber como transforma-lo e melhor realizar a existência humana nele.

 Cético - E qual seria a finalidade da existência-humana-no-mundo?

 Filósofo -Supostamente a felicidade.

 Cético - E se a felicidade não for possível?

 Filósofo - Então, ao menos que saibamos como evitar o sofrimento!

 Cético - E como o homem poderia realizar sua existência-no-mundo?  

 Filósofo -A partir da humanização do próprio homem. da descoberta de si mesmo, de sua relação com o outro da leitura e interpretação corretas do meio em que vive e atua, do despertar da consciência crítica e de sua formação como sujeito (ser de ação, de consciência ética , de liberdade e responsabilidade). 

 Em um só termo: por meio da virtude e do conhecimento; da consciência e da liberdade de escolha; da vontade de ação para o bem.

 Segundo Aristóteles, a felicidade está na mediania, no meio-termo, nem na falta, nem no excesso. É aí que reside a felicidade humana”.

Cético Então, diga-me; como o homem poderá se tornar humano (sujeito consciente) querer e agir na direção do bem em um mundo de tanta maldade, violência e individualismo?

Filósofo -A premissa maior de toda Filosofia é que o bem habita em cada homem. Nenhum homem é nasce mal... Se não praticas o bem é porque desconhece verdadeiramente o bem. A questão é de ignorância, de não consciência do bem, e não de ser mal. Nenhum homem há de preferir o mal conhecendo verdadeiramente o bem. Por isso a filosofia busca a verdade.

-     E é o despertar da consciência de sujeito que tornará cada um, capaz de fazer girar a roda da virtude ou seja, (do bem, da justiça, da ética, da sabedoria) justamente o que nos torna humanos.

-           

           “Ser humano é reconhecer no outro, a sua própria humanidade”. Sócrates dizia que, aquele que tem a ciência (conhecimento) e a     sabedoria (virtude), há de querer invariavelmente o supremo bem, (a felicidade e a liberdade.) 

 

Cético —-Pois então meu caro! Responda-me esta última pergunta e me darei por satisfeito.

 O que poderá provocar esse despertar da consciência de que tanto fala a filosofia, para que homens se tornem sujeitos, livres de toda ignorância, preconceitos, ideologias, dogmas e ceticismos e passem a agir com retidão ética no caminho da virtude e da verdade, que pelo que entendi, visam a felicidade humana e o bem-viver?     

 Filósofo - Não vejo outra coisa, senão, a Filosofia.

 Cético – Será?

 

 

Texto produzido por:

Prof. Westerley   Santos/ Filosofia