CÂMARA DE GÁS NAZISTA
O nazismo era de
esquerda ou de direita?
Existe um extenso
debate a respeito da posição do nazismo no espectro político, mas o consenso
entre os historiadores é de que o movimento surgiu da direita política
alemã.
Nos últimos anos, um
debate tem ocupado muito espaço quando o assunto é nazismo: esse movimento era de direita ou de esquerda? A intenção
deste texto é levantar algumas questões referentes aos fatos históricos e ao
debate que existe sobre o tema entre os historiadores como forma de trazer
esclarecimento sobre o assunto.
O consenso
acadêmico, ou seja, o consenso entre os historiadores, é de que o nazismo era um movimento localizado na
extrema-direita do espectro político. A argumentação dos historiadores
utiliza a análise do discurso do próprio Hitler e da ideologia do Partido
Nazista, bem como dos fatos históricos e dos grupos de apoio aos nazistas, que
eram grupos políticos e paramilitares de direita. Afirmar que o nazismo era um
regime da extrema-direita não significa negar que existiram movimentos
ditatoriais da extrema-esquerda, como foi o caso do governo de Stalin, na União
Soviética, ou de Pol Pot, no Camboja.
No caso do nazismo,
a conceituação vigente entre os maiores
historiadores do mundo é de que se tratava de um regime de extrema-direita,
pois, como mencionado, a sustentação do partido ocorreu por meio do apoio de
grupos conservadores e paramilitares da direita alemã. Com uma análise
minuciada das características do Partido Nazista, é possível identificar melhor
essas questões.
Uma característica
central da ideologia nazista eram os ataques ao marxismo e ao comunismo
soviético. O
desprezo ao comunismo era um elemento central da ideologia nazista. O temor ao
comunismo, inclusive, é levantado pelos historiadores como um dos fatores que
alavancaram o nazismo na Alemanha.
Na Alemanha durante
as décadas de 1910 e 1920, as ideias comunistas eram muito influentes e
possuíam muitos adeptos. A respeito dessa questão, o historiador Ian Kershaw menciona o fato de que os
escritos de Hitler denotavam que ele não havia estudado marxismo1 e ainda que Hitler
almejava ser o destruidor do marxismo2.
O resultado dessa
busca de Hitler pela destruição do marxismo, representado no comunismo
soviético, deu origem a uma geração de alemães que, a partir de uma extensa
doutrinação, via no comunismo e nos judeus duas coisas que deveriam ser
destruídas, como evidencia o historiador Max Hastings.
O antimarxismo dos nazistas ecoava em parcela com o antissemitismo. Isso se explica pelo
fato de que os nazistas acreditavam que o comunismo soviético era parte de um plano dos judeus de dominação
internacional. Essa ideia conspiracionista em relação aos judeus foi fortemente
influenciada na época por uma publicação anônima chamada Os Protocolos dos Sábios de Sião.
No caso do
antimarxismo, podemos citar também os freikorps,
os grupos paramilitares que apoiavam o nazismo durante a década de 1920 e
promoviam ataques contra os seus opositores ideológicos. Assim, foram comuns
casos de grupos paramilitares que perseguiam e agrediam social-democratas
(centro-esquerda) e marxistas/comunistas (esquerda).
O nazismo era
liberal ou antiliberal?
Na questão da
economia, há muita confusão, sobretudo pelo fato de o nazismo ter sido um
partido antiliberal. Isso porque
Hitler só aceitava uma economia capitalista que estivesse sob o poder do
Estado, negando que o desenvolvimento capitalista acontecesse no livre mercado.
De toda forma, o direito à propriedade privada era garantido dentro do Estado
nazista e, conforme pontua Ian Kershaw, Hitler distinguia “capital industrial”
de “capital financeiro”. O primeiro era visto de maneira positiva, e o segundo,
de maneira negativa, uma vez que estava supostamente nas mãos dos judeus, o
grupo visto como o responsável por todo o mal que a sociedade alemã enfrentava.
Por que Partido
Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães?
Outro ponto
importante está na confusão acerca do nome do partido: Partido
Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Essa nomenclatura fazia parte da
propaganda do partido para atrair pessoas. Nesse sentido, utilizavam-se
termos de dois movimentos bastante populares à época: o nacionalismo e o socialismo.
Ambos os movimentos tinham inúmeros adeptos na Alemanha da época.
Até as cores do
partido foram pensadas por Hitler como forma de atrair pessoas para o
nazismo. Esse tipo de propagandismo a partir da nomenclatura foi utilizado
por outros partidos ao longo da história. Um exemplo que é amplamente
considerado atualmente é o caso da República Democrática da Coreia ou,
simplesmente, Coreia do Norte, que, apesar do nome, sabemos que não tem nada de
democrática. Por fim, é importante especificar que esse debate de o nazismo
ser de esquerda não existe entre os meios acadêmicos, uma vez que a sua
legitimidade nos fatos históricos não é comprovada pelos estudos feitos sobre o
tema.
O que era o nazismo?
O nazismo foi um partido político que
surgiu na Alemanha em 1920 e que ascendeu rapidamente ao poder aproveitando-se
do desespero da sociedade alemã, que estava arrasada em consequência da
Primeira Guerra Mundial e da Grande Depressão. Os nazistas conseguiram chegar
ao poder em 1933 e iniciaram um regime totalitário que levou a Alemanha à
Segunda Guerra Mundial e a cometer o maior genocídio da humanidade: o holocausto.
O partido nazista é
fruto de ideais que estavam em evidência na sociedade alemã desde o século XIX
e que ganharam nova dimensão após a Primeira Guerra Mundial. No século XIX, a
região que corresponde à Alemanha sofreu o seu processo de unificação
(surgimento do Estado Nacional Moderno da Alemanha) em torno de fortes ideais
nacionalistas. Esse processo foi conduzido por Otto von Bismarck. O
nacionalismo exacerbado que existia na sociedade alemã era acompanhado por
tendências xenofóbicas (desprezo pelo estrangeiro) que se voltavam contra
outros povos (como os poloneses) e pelo antissemitismo (aversão aos judeus).
Esses ideais
escoravam-se em ideologias da época baseadas no darwinismo social que
procuravam comprovar cientificamente a “superioridade” de determinados povos em
relação a outros. No caso do alemão, desenvolveu-se um ideal em torno do
“nórdico” ou “ariano” como povo superior. Esse ideal de superioridade era
acompanhado de um ideal de império em que os alemães formariam um “espaço
vital”, uma espécie de mito rural em que os alemães ocupariam um vasto
território e viveriam à custa do trabalho dos eslavos.
Além do nacionalismo
extremo, da xenofobia e do antissemitismo,
a sociedade alemã também reproduzia outros ideais, como a exaltação da
guerra como forma de alcançar o desenvolvimento e o apreço por uma
liderança forte. Todos esses valores foram levados para o século XX e
exportados aos movimentos extremistas da década de 1920, quando a
sociedade alemã estava à beira do colapso.
O surgimento do
nazismo está diretamente relacionado com o cenário da Alemanha após a Primeira
Guerra Mundial. O fim desse conflito foi marcado pela rendição da Alemanha e
pela resignação das lideranças do país em assumir a total responsabilidade pelo
conflito. Isso foi enxergado por uma parte considerável da sociedade alemã como
uma traição, e a rendição do país foi vista de uma maneira conspiratória, isto
é, elementos da sociedade passaram a acreditar que a rendição da Alemanha havia
sido fruto de uma conspiração.
Para agravar a
situação, a Alemanha encarou a pior crise econômica da sua história nas décadas
de 1920 e 1930 por conta da derrota na guerra e da Crise de 1929 (Grande
Depressão). A crise econômica fez com que a moeda alemã sofresse uma
desvalorização brutal e o desemprego disparasse e alcançasse quase a metade da
população em idade ativa.
Foi dentro desse
contexto que o nazismo ganhou força. O partido surgiu oficialmente em 1920 com
o nome de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (em alemão, o
nome do partido era Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, com sigla
NSDAP). Hitler esteve envolvido com o surgimento do partido na data citada e
ajudou na elaboração do programa do partido.
Aos poucos, Hitler
foi ganhando mais importância na popularização dos nazistas, principalmente por
sua excelente oratória, que chamava a atenção das pessoas. Ele se tornou líder
do partido nazista em 1921 e foi figura central no fortalecimento do nazismo ao
longo da década de 1920, conseguindo chegar ao poder da Alemanha em 1933.
Fonte:
https://brasilescola.uol.com.br/historiag/o-nazismo-era-esquerda-ou-direita.htm
VEJA ABAIXO:
CARACTERÍSTICAS DO FASCISMO
_______________________
1 KERSHAW, Ian.
Hitler. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 84.
2 Idem, p. 171.
Referencial teórico
utilizado:
EVANS, Richard J. A
chegada do Terceiro Reich. São Paulo: Planeta, 2016.
EVANS, Richard J. O
Terceiro Reich no poder. São Paulo: Planeta, 2014.
GOLDHAGEN, Daniel
Jonah. Os carrascos voluntários de Hitler: o povo alemão e o Holocausto. São
Paulo: Companhia das Letras, 1997.
HASTINGS, Max.
Inferno: o mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012.
HOBSBAWN, Eric. Era
dos Extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras,
1995.
KERSHAW, Ian.
Hitler. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
RICHARD, Lionel. A
República de Weimar 1919-1933. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
*Créditos da imagem:
Everett Historical e Shutterstock
Por Daniel Neves
Silva
Graduado em História
CURIOSIDADE:
A cruz suástica é um
dos símbolos mais utilizados pelo nazismo, representando um "sorte",
"prosperidade" e "sucesso", entre os nazistas. Porém,
atualmente, este símbolo tem uma conotação totalmente negativa, sendo até mesmo
proibido de ser replicado ou incentivado em locais públicos. No entanto, muita
gente não sabe mais o símbolo que se tornou um dos "mais odiados do
mundo", por causa da sua ligação com o Partido Nazista, existe há muitos
anos e sob um significado totalmente inofensivo e bondoso. Antes de ser adotada
como símbolo do Nazismo, a cruz Suásticaera um amuleto de sorte, representando
a prosperidade e o sucesso.
Vale ressaltar que,
etimologicamente, a palavra "suástica" em sânscrito significa
"felicidade", "sorte" e "prazer".