Maria José Ferreira Ruiz (*)
Falar do papel de educadores e educadoras na sociedade atual
demanda entender como esse foi se constituindo através do caminhar da educação
brasileira. Segundo Gadotti (1998), os cursos de formação de professores, mais
especificamente o curso de pedagogia, é regulamentado no Brasil em 1969 no
período da ditadura militar, fato este que remete a pensar em um educador
passivo, apolítico, técnico sem preocupações sociopolíticas, com um agir
totalmente desvinculado da realidade na qual se inseria. Dessa forma, oferece
habilitações para supervisão, orientação, administração, inspeção e
planejamento com conotações totalmente tecnicista, apoiada no treinamento
desses profissionais para atuarem nas escolas com toda a objetividade possível.
Entender a forma que o curso de pedagogia foi regulamentado no
Brasil se faz necessário a compreensão de como essa mentalidade, mesmo que de
forma implícita, ainda permeia o agir de educadores e educadoras no momento
atual, pois, como nos aponta Sany Rosa (2000), a formação do profissional da
educação não se inicia, ao contrário do que se imagina, quando esse ingressa em
um curso de formação de professores, mas sim desde o primeiro dia em que esse
ingressa na escola como aluno. Suas representações e significados de educação,
vivificados enquanto estudantes, são muito mais influenciadas pela sua vivência
escolar do que com as teorias que venha a entrar em contado em sua formação
acadêmica.
Sendo que grande parte dos educadores e educadoras que se
encontram em sala de aula atualmente passou por todo esse sistema repressivo da
ditadura militar e foram alunos de professores e professoras que trabalhavam
sobre a égide desse momento histórico, se Sany Rosa tem razão, necessitam
sempre refletir, questionar e rever sua prática pedagógica para não cair em um
ciclo vicioso de reprodução dessa ação castradora. Para Gadotti (1998, p. 71) o
profissional da educação precisa ser desreipetoso para questionar a realidade
que a ele se apresenta para então promover mudanças sociais. Explicando melhor,
apóia.se nas palavras do autor:
É preciso ser desrespeitoso, inicialmente, consigo mesmo, com a
pretensa imagem do homem educado, do sábio ou mestre. E é preciso desrespeitar
também esses monumentos da pedagogia, da teoria da educação, não porque não
sejam monumentos, mas porque é praticando o desrespeito a eles que
descobriremos o que neles podemos amar e o que devemos odiar. [...]. Nessas
circunstâncias, o educador tem a chance de repensar o seu estatuto e repensar a
própria educação. O educador, ao repensar a educação, repensa também a
sociedade.
Desrespeitar, no enfoque de Gadotti, pode ser entendido como
questionar. Educadores e educadoras precisam constantemente repensar e
revisitar suas crenças mais intrínsecas sobre a representação que têm de
educação, pois, de acordo com Paulo Freire, que já proclamava desde os anos 60,
e de acordo com Gadotti (1998, p.72), a educação não é neutra. Ou se educa para
o silêncio, para a submissão, ou com o intuito de dar a palavra, de não deixar
calar as angústias e a necessidade daqueles que estão sob a responsabilidade,
mesmo que temporária, de educadores e educadoras nos âmbitos escolares. Sendo
assim, métodos e técnicas precisam ser secundarizados na discussão sobre a
educação, o que se deve atentar prioritariamente é sobre a vinculação «entre o
ato educativo, o ato político e o ato produtivo».
Nesse prisma, professores e professoras têm um papel sobretudo
político e precisam problematizar a educação, buscando o porquê e o para quê do
ato educativo; mais que isso, sua tarefa é a de quem incomoda, de quem
evidencia e trabalha o conflito, não o conflito pelo conflito, mas o conflito
para sua superação dialética.
No entanto, pergunta-se, até que ponto pode-se dizer que esse
fazer dialético, problematizador, está presente no cotidiano escolar? Estão
nossos professores e professoras, problematizando as questões, ou continuam se
calando diante das injustiças? Trabalham para quem? A favor de quem?
Estabelecem uma relação dialógica com o saber, buscando uma sociedade
democrática e coletiva, ou reproduzem a lógica do sistema no interior das
escolas através de seleções, de exclusões, de estímulo à individualidade e à
competitividade?
Gadotti (1998, p. 74) entende que não há uma educação tão somente
reprodutora do sistema e nem uma educação tão somente transformadora desse
sistema. Essas duas tendências coexistem no plano educacional numa perspectiva
dialética e conflituosa. Sendo assim:
[...] há uma contradição interna na educação, própria da sua
natureza, entre a necessidade de transmissão de uma cultura existente – que é a
tarefa conservadora da educação – e a necessidade de criação de uma nova
cultura, sua tarefa revolucionária. O que ocorre numa sociedade dada é que uma
das duas tendências é sempre dominante.
Sendo assim, o papel dos profissionais da educação necessita ser
repensado. Esses não podem mais agir de forma neutra nessa sociedade do
conflito, não pode ser ausente apoiando-se apenas nos conteúdos, métodos e
técnicas; não pode mais ser omisso, pois os alunos pedem uma posição desses
profissionais sobre os problemas sociais, não com o intuito de inculcação
ideológica de suas crenças, mas como alguém que tem opinião formada sobre os
assuntos mais emergentes e que está disposto ao diálogo, ao conflito, à
problematização do seu saber.
Atualmente não se pode mais apoiar-se em teses que apregoam que a
educação não pode mudar enquanto não houver mudanças estruturais no sistema.
Faz-se necessário acreditar, com Gadotti, que, apesar da educação não poder
sozinha transformar a sociedade em questão, nenhuma mudança estrutural pode
acontecer sem a sua contribuição. A transformação social, que muitos almejam
para uma sociedade mais justa, com menos desigualdades, onde todos tenham voz e
vez, só será possível a partir do momento que se evidenciem os conflitos, não
tentando escondê-los ou minimizá-los, mas que os tragam à tona, para que assim
a educação não contribua como mecanismo de opressão, buscando a superação e não
a manutenção do status quo.
4. EDUCAÇÃO: UM ATO POLÍTICO
Apegar-se no que já deu certo, por vezes traz em si um certo
conforto que faz com que toda tentativa de mudança seja vista com temeridade.
Na atualidade a sociedade encontra-se em meio a profundas transformações. Em
vista das tecnologias, da rapidez de acesso às informações, dentre outros
fatores, a superação das idéias hoje concebidas como apropriadas, amanhã são
questionadas. Essas questões trazem consigo um certo desconforto e uma
necessidade de rever sempre os conceitos. Entretanto, encontra-se nos dizeres
de vários teóricos da educação, entre eles Gimeno Sacristán (1998, pp. 11-12),
a dificuldade e a grande resistência do sistema educacional acompanhar tais
mudanças:
Nesta época temos que pensar e decidir o percurso pelo qual
queremos que transmita a realidade social e a educação dentro de coordenadas
inseguras [...]. A crise dos sistemas educativos tem a ver com a perda da
consciência em seu sentido [...]. Tomar opções não é fácil neste final de
milênio em que vemos tombadas tantas referências e seguranças. A educação tem
funções a cumprir; entretanto, estão ficando desestabilizadas pelas mudanças
políticas, sociais e culturais que estão acontecendo [...]. Assistimos a uma
crise importante nos discursos que têm guiado a escolarização nesta segunda
metade do século xx. As práticas, entretanto, parecem seguir velhas seguranças,
como se nada estivesse acontecendo [...].
Gimeno Sacristán toca em questões
que fazem pensar sobre as mudanças educacionais que documentos formulados nos
meados do século passado, como o Relatório Delors1 e os
PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), permeiam a esfera educacional.
Entretanto, apesar de serem muito bem formulados e apontarem um norte à
educação, são, por vezes, acomodados numa prateleira qualquer das escolas e por
ali ficam, não acontecendo, então, a transposição teórico-prática.
Mais importante que criticar educadores e educadoras sobre a
resistência a mudanças estruturais que delegam a essa categoria, e não querendo
aqui cair em generalidades, seria refletir sobre o porquê de tal resistência. A
quem interessa essa imagem de resistência criada em torno dos educadores? Quais
são as possibilidades reais de se efetuar tais mudanças? Se, teoricamente,
foram pensadas (as mudanças) com maestria, será que apontam como transpor para
a prática? Que estrutura oferecem as políticas educacionais para que essas
mudanças aconteçam na prática? Como foram pensadas e por quem? Atendem a
especificidade da educação brasileira, ou, mais uma vez, trata-se de modelos
copiados? Como foram apresentadas aos professores e professoras? Será que, ao
mudar as regras do jogo enquanto esse acontecia, os jogadores foram
consultados? Essas e outras muitas questões poderiam ser formuladas a respeito
da formulação desses documentos que atualmente regem a educação brasileira.
Levantar esses e outros questionamentos se faz necessário para
professores e professoras; porém, o que não se pode negar é a urgência de
provocar mudanças nas esferas educacionais. Entender que, por vezes, as
mudanças educacionais são propostas por tecnoburocratas e por alguns educadores
que atingiram um certo nível de ilustração, não significa ficar alheio à
realidade e a observar que a sociedade mudou, que as crianças estão envoltas
hoje em um mundo «polifônico e policrômico [...] cheio de cores, imagens e
sons. Muito distante do espaço quase que exclusivamente monótono, monofônico e
monocromático que a escola costuma oferecer» (Kenski, 1996, p.133).
Sendo assim, precisa-se refletir sobre a urgência de criar-se nas
escolas um ambiente que dê conta dessas transformações sociais, pois é nessa
sociedade que alunos e alunas vão interagir, e, quem sabe, como
idealizava Paulo Freire, provocar transformações que levem a um bem viver
coletivo. A respeito dessa transformação que urge, Gadotti (1998, p. 81) nos
diz:
O homem faz a sua história intervindo em dois níveis: sobre a
natureza e sobre a sociedade. O homem intervém na natureza e sobre a sociedade,
descobrindo e utilizando suas leis, para dominá-la e colocá-la a seu serviço,
desejando viver bem com ela. Dessa forma ele transforma o meio natural em meio
cultural, isto é, útil a seu bem-estar. Da mesma forma ele intervém sobre a
sociedade de homens, na direção de um horizonte mais humano. Nesse processo ele
humaniza a natureza e humaniza a vida dos homens
Entender essa complexidade da ação educativa faz-se necessário
para que se saia de posturas extremistas, ora endeusando ora demonizando
quaisquer que sejam as mudanças no setor educativo. Endeusando, porque se nota
nos dizeres de alguns educadores total apego a tudo que de novo apareça, caindo
em verdadeiros modismos educacionais que apontam receitas sem nenhuma
profundidade teórica. Demonizando, porque também se nota, nos dizeres de
outros, total desapego ao que de novo apareça, ou seja, fortemente ligados à
tradição, ao que deu certo, portanto, não deve ser mudado.
Posturas extremistas assim não contribuem para a necessidade de
promover transformações na esfera educacional. Talvez o que falte à educação,
ou melhor, no entendimento das pessoas que lidam com a educação, mais
especificamente àqueles que propõem mudanças em nível documental, que formulam
os dizeres que permeiam as políticas educacionais, que precisam e necessitam
ser implementadas, porque muito bem formuladas, seja a consciência
de que «a mudança se opera por ato e decisão dos homens juntos (fatores
subjetivos) e levando em conta as condições concretas que possibilitam a
mudança (fatores objetivos)» (Gadotti, 1998, p. 82).
Gadotti (1998, p. 83), assim como Paulo Freire, acreditam numa
pedagogia transformadora que seja capaz de mudar comportamentos. Entendem que
existem quatro categorias, entre outras, que posam contribuir para que a
educação promova transformações substanciais: contradição, divergência,
desobediência e desrespeito.
É a partir da contradição que homens e mulheres se
percebem enquanto seres inacabados, com um conhecimento ínfimo da realidade que
os cercam e em constante transitoriedade, o que leva a um certo desequilíbrio.
Em relação a esse, Gadotti (1998, p. 83) diz que:
O que mantém o homem em pé é o equilíbrio de forças opostas. Esse
equilíbrio é estático quando um pé age sobre o outro, mas o homem só avança
quando toma o risco de desequilibrar-se, impulsionando um pé para frente,
rompendo o equilíbrio. Romper o equilíbrio é um ato pedagógico transformador:
significa impulsionar o homem para frente.
A divergência, enquanto ato pedagógico, por sua vez contribui para
que educadores e educadoras entendam que vivem em uma sociedade plural e
multifacetada; sendo assim, necessitam expor a seus alunos as várias
possibilidades de encarar um mesmo conflito, abrindo um leque de atitudes
possíveis na resolução desses conflitos.
A desobediência, como a contradição e a divergência, também é
vista por Gadotti como um ato pedagógico transformador, pois é por meio dela
que acontece o progresso humano. Ao ser capaz de dizer não às imposições
do sistema, educandos e educandas reafirmam o seu eu. Essa desobediência pode
ser individual ou coletiva, sendo a segunda entendida como desobediência civil.
Professores e professoras precisam instrumentalizar seus alunos e alunas para
que entendam que podem provocar mudanças substanciais a partir do momento que
forem desobedientes no sentido de não aceitar as mazelas do sistema, desenvolvendo
uma consciência crítica.
A última categoria apontada por Gadotti (1998, p. 84) refere-se ao
desrespeito. Para ele esse desrespeito aconteceria muito mais no campo das
idéias que no pessoal, ou melhor, educadores e educadoras precisam entender que
podem e devem ir contra a submissão pretendida pelo sistema para provocar
mudanças estruturais, se submeterem ao sistema, aos preconceitos imbricados
nele perpetuarão a status quo, «e sua ação tornar-se-ia conservadora, já
que incitaria o outro a permanecer na sua posição, na segurança que lhe dá o
sagrado ou o consagrado em sua vida».
Nessa perspectiva, assim como Paulo Freire, Gadotti (1998, p. 85)
defende que a educação não pode negar a sociedade que está inserida e a luta de
classes que há nessa sociedade, pois o «avanço das lutas sociais modifica a
fisionomia das lutas pedagógicas». Sendo assim, Gadotti defende que a educação
pode promover nos estudantes uma consciência social e política, porém não
política partidária, visando à melhoria da qualidade de ensino, à melhoria das
relações interpessoais que se travam na escola, à melhoria da organização do
trabalho que se desenvolve na escola, dentre outros fatores que só um estudante
politizado pode reivindicar. Para Gadotti (1998, p. 85):
Estudante politizado é aquele que atua politicamente dentro e fora
da escola. É um estudante que tem motivação pela qualidade, pela relevância
social e teórica do que é ensinado. Passa a exigir do professor, tem interesse
pelas relações humanas estabelecidas no interior da escola, discute a gestão da
escola, o currículo, enfim, o projeto político-pedagógico da escola.
No entanto, pergunta-se: até que ponto esse espaço político
almejado por Gadotti e Paulo Freire é oferecido aos alunos e alunas? Tem
interessado a professores e professoras, mesmo aqueles que trabalham com os
pequenos, desenvolver essa consciência crítica? O que se espera de um sistema
escolar que classifica, separando os capazes dos incapazes, que não dá espaço
ao mínimo questionamento de alunos e alunas que ali estão, sem encará-lo como
ato de subversão? Será que o profissional da educação em seu que fazer reflete
sobre tais questões, se educa para transformar ou para manter o status quo?
Ou ainda, será que, ao entrar em contato com os ideais freireanos de educação para
transformação social, consideram-no utopia? A respeito da utopia, Pierre Furter
(1976, pp. 44- 45) já dizia:
Sem a utopia, não existiriam perspectivas, nem horizonte
pro-fundo; sem a ação, a utopia se desfaria em abstração e em sonho delirante.
Portanto, a utopia deve tornar-se concreta. [...]. As raízes da utopia
consistem no fato de que o homem ainda não é um ser satisfeito, porque ainda
não é perfeito, porque o mundo ainda não é acabado.
Sendo assim, antes de se depositar na utopia a imobilidade educacional,
deve-se entender que a utopia é precisa porque reafirma a necessidade de
transformação, que pode acontecer de forma lenta, mas que permea o «que fazer»
de professores e professoras, a partir do momento em que a criança ingressa na
escola, desde a educação infantil até os níveis superiores, pois não se pode
esperar que o estudante que, desde pequeno é levado à submissão, cresça e se
torne uma pessoa preparada para promover mudanças substanciais à humanidade.
Se algum profissional da educação ainda tem dúvida da necessidade
de promover mudanças sociais é só olhar em torno de si mesmo e observar as
mazelas que a sociedade atual vem criando: a fome, a miséria, as injustiças
sociais, o desrespeito aos mais básicos direitos humanos. Gadotti (1998, p. 87)
mostra que:
Educar nessa sociedade é tarefa de partido, isto é, não educa para
a mudança aquele que ignora o momento em que vive, aquele que pensa estar
alheio ao conflito que o cerca. É tarefa de partido porque não é possível ao
educador permanecer neutro. Ou educa a favor dos privilégios ou contra eles, ou
a favor das classes dominadas ou contra elas. Aquele que se diz neutro estará
apenas servindo aos interesses do mais forte. No centro, portanto, da questão
pedagógica situa-se a questão do poder.
Frente a essa imobilidade
pedagógica que assola os meios educacionais, seja por insegurança, por apego ao
que deu certo, ou por falta de vontade política, a escola vive às voltas de
duras críticas2.
A revista Veja 3
publicou um artigo escrito pelo colunista Diogo Mainardi com o título «Escola é
perda de tempo», cujo conteúdo questiona a falta de eficiência da escola em
fornecer aos alunos requisitos básicos como ler e efetuar as quatro operações.
A leitura do artigo mexe com a auto-estima de professores e professoras, que se
defendem colocando a culpa da falta de qualidade do ensino nas leis atuais e na
ausência de reprovação. Questiona-se então, antes das leis mudarem, o que
acontecia com essas pessoas que não conseguiam alcançar os requisitos básicos
para avançar as séries do sistema? Quantas pessoas ficaram à margem da escola
por desistirem frente a tantos obstáculos? Como incluir a todos se baixar a
qualidade de ensino? Ou será que a escola é para poucos iluminados?
Volta aqui, a questão da necessidade de politização, tanto de
professores como de estudantes, para que, compreendendo esse sistema,
compreendendo como acontece a elaboração das leis, possam atuar sobre elas. No
entanto, Gadotti (1998, p. 89) entende que:
Como pode o educador assumir um papel dirigente na sociedade se na
sua formação o todo social resume-se a uns poucos conhecimentos de métodos e
técnicas pedagógicas ou a uma história da educação que se perdeu no passado e
nunca chega aos nossos dias? Como pode uma nação esperar que as novas gerações
sejam educadas para o progresso, o desenvolvimento econômico e social, para a
construção do bem-estar para todos, sem uma sólida formação política?
Apesar do ato político estar tão presente na fala de Gadotti,
assim como na de Paulo Freire, ambos não reduzem o ato pedagógico ao político,
mas concordam que, apesar da política não dar conta de toda a complexidade
pedagógica, ela não deve ser ignorada na esfera educacional.
Concluindo, comunga-se com as palavras de Gadotti (1998, p. 90)
que alia ao papel social de professores e professoras esperança em um futuro
melhor para a educação brasileira:
Ao novo educador compete refazer a educação, reinventá-la, criar
as condições objetivas para que uma educação realmente democrática seja
possível, criar uma alternativa pedagógica que favoreça o aparecimento de um
novo tipo de pessoas, solidárias, preocupadas em superar o individualismo
criado pela exploração do trabalho. Esse novo projeto, essa nova alternativa,
não poderá ser elaborado nos gabinetes dos tecnoburocratas da educação. Não
virá em forma de lei nem reforma. Se ela for possível amanhã é somente porque,
hoje, ela está sendo pensada pelos educadores que se reeducam juntos. Essa
reeducação dos educadores já começou. Ela é possível e necessária.
Espera-se que os profissionais da educação acreditem nessa força
que Gadotti lhes deposita, e desejem realmente participar da construção de uma
nova educação para um novo mundo.
Nota do Blog:
¹ Recorte do ítem 3 da pesquisa da autoria Maria José Ferreira Ruiz; “ O papel social
do professor: uma contribuição da filosofia da educação e do pensamento
freireano à formação do professor”
BIBLIOGRAFÍA
Arroyo, Miguel G. (2002): Ofício de mestre: imagens e
auto-imagens, 6.ª ed., Rio de Janeiro, Editora Vozes.
Furter, Pierre (1976): Educação e reflexão, 9.a ed., Rio de
Janeiro, Editora Vozes.
Gadotti, Moacir (1998): Pedagogia da práxis, 2.ª ed., São
Paulo, Cortez.
Gimeno Sacristán, José (2001): «A educação que temos, a educação
que queremos», in Francisco Inbernón: A educação no século xxi: os desafios
do futuro imediato, Porto Alegre, Artimed.
— (2000): Poderes instáveis em educação, Porto Alegre,
Artes Médicas.
Haydt, Regina Célia Cazaux (1997): Curso de didática geral,
4.ª ed., São Paulo, Ática.
Kenski, Vani Moreira (1996): «O ensino e os recursos didáticos em
uma sociedade cheia de tecnologias», in I. P. A. Veiga (org.): Didática: o
ensino e suas relações, Campinas, Papirus.
Morin, Edgar (2001): Os sete saberes necessários à educação do
futuro, 3.ª ed., São Paulo, Cortez.
Rosa, Sanny S. da (2000): Construtivismo e mudança, São
Paulo, Cortez Editora.
Severino, Antônio Joaquim (2001): «Identidade e tarefas da
filosofia da educação», in Educação, sujeito e história, São Paulo, Olho
D’água.
Silva, E. T. (1992): Os (des)caminhos da escola:
traumatismo educacionais, 4.ª ed, São Paulo, Cortez.
Notas
(*) Pedagoga
graduada pela Universidade Estadual de Londrina com habilitação
1
Recomenda-se a leitura de Educação, um tesouro a descobrir.
2 A respeito
do assunto, recomenda-se a leitura de Ivan Illich (1970), A sociedade
desescolarizada, e Everett Reimer (1971), A escola morreu, entre
outras.
3 Edição
1821, ano 36, núm. 38, 24/09/2003.