quinta-feira, 26 de abril de 2012

O SÁBIO E A MORTE.

CARTAS FILÓSÓFICAS
Nº 31

O Sábio e a morte.

E
is que surgimos neste mundo, já enganados quanto à nossa permanência nele. Estúpidos, ingênuos em nossa tenra ignorância, vamos adquirindo as primeiras impressões do mundo ao nosso redor, exercitando nossos sentidos mais pueris, até alcançarmos a percepção, primeiro deles próprios, e depois do outro mais próximo a nós, até nos percebermos a nós mesmos como algo existente. - Sem saber que passaremos toda a existência tentando definir este ser que há em nós e ao mesmo tempo nos será para sempre estranho.

Crescemos em corpo e consciência, adquirimos a dimensão, primeiro de lugar, de espaço e depois de tempo. Percebemos-nos em nós mesmos, conhecemos os outros e a eles nos associamos, experimentamos os sentimentos mais efêmeros e também verdadeiros e ao experimentá-los, descobrimos que temos vida. Na tentativa de defini-la, descobrimos que temos alma.  Ainda que nunca sejamos capazes de entender nenhuma delas propriamente!

Que coisa é essa que me dá vida? Que coisa é esta a própria vida? É quando Indagamos inevitavelmente sobre a finitude. E aí nos deparamos com a única realidade inexorável a qual não se pode refugar. Deparamos-nos com a inevitabilidade da vida. O que não há escolha! E dar-se a angústia infinda que será para toda a existência nossa companheira, poucas vezes desejada, mas nunca tão banalizada, nos fazendo oscilar entre a coragem e o medo de ser.

E passamos a indagar e a conviver para sempre com a idéia daquilo que sabemos que é, mas não sabemos o que é.

Ao menos em uma coisa os religiosos, estudiosos, filósofos e tânatologistas, estão corretos. Para se definir a morte é preciso mesmo que se defina antes a vida. Há mesmo uma interdependência que as une como um toque de dedos no tempo e no espaço.

É se é verdade que tudo o quanto há tudo que é, há e é, no tempo e nos espaço, então posso concluir que a vida que a tudo dá existência, animada ou inanimada, só se realiza no tempo e no espaço. E, se a morte é a ausência de vida, e, se a vida é existência só possível no tempo e no espaço, logo: a morte só pode ser uma não-existência, causada pela ausência de tempo e espaço.

Ora!  Tempo e espaço estão inseridos, definidos ou sendo definidos por um lugar! Deste modo, a morte só pode ser um não-lugar, onde não há tempo e nem espaço. E, em sendo um não-lugar, é inevitável aludir Epicuro¹:

“a morte nada pode ser para nós, já que enquanto existimos, a morte não é, e quando a morte chega, não somos mais.”

Mas não entendo que estamos falando do nada. Não! A morte não é o nada, é a ausência do tempo, espaço e lugar.

Mas o que são estas categorias?  São no mínimo dimensões de limites.

Então, se a morte é uma ausência das dimensões delimitadoras de tempo, espaço e lugar, mas não é o nada, só posso inferir que ela é algo que não se delimita por nada. Só me resta concluir que a morte é então uma eternidade.

 Ora! A verdade é uma categoria eterna, sendo assim ela participa da eternidade; então, o sábio que busca a verdade do bem, da felicidade e do amor, só pode encontrá-la se participar, ele próprio, da eternidade.

Westerley ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Abril 2008


P.S. Esta carta foi uma solicitação de um visitante do Blog
Sobre Eutanásia - ver Tomas Morus ( O direito à Eutanásia)