sábado, 30 de julho de 2022

Para que serve a filosofia

PROFESSOR; FILOSOFIA SERVE PARA QUE?  

Esta é uma pergunta muito comum que alguns alunos nos faz. Há respostas clássicas e rápidas como: serve para nos ensinar a pensar criticamente ou serve para nos ensinar a conhecer a realidade por detrás das aparências ou ainda, serve para nos ensinar a conhecer a verdade e nos libertar das ideologias manipuladoras. Serve para tudo isso, mas não é só!

Grandes filósofos já abordaram esta questão: Tales de Mileto, Sócrates, Platão, Aristóteles, Tomás de Aquino, Kant, Descartes, Dewey, Gilles Deleuze e Félix Guattari, José O. y Gasset, Marilena Chauí, entre outros, inclusive escritores importantes como; Fernando Pessoa e Machado de Assis.

Contudo, após todas estas explicações sempre fico com aquela sensação de que alguns alunos não se convencem muito do valor e importância da Filosofia, sobretudo para suas vidas práticas. Por isso, a pergunta sempre volta: Professor; filosofia serve para quê!? 

Talvez por dificuldade (cada vez maior) em pensar de modo abstrato, conceitual, crítico, para além do pragmatismo do mundo econômico, do imediatismo, do utilitarismo, promovido sobretudo, pela ideia capitalista de obtenção de resultados, o aluno se encontra entre; o que é isso? E para que isso; a Filosofia?  

É o mundo das coisas úteis e das aparências, que lhe é apresentado todo dia pela mídia e redes sociais, como o mais importante. A posse, o dinheiro, os bens, o carro, a moto, o celular de última geração, o tênis de marca...  Deste modo fica longe a percepção da importância do mundo dos valores perenes para nossas vidas, como; a Ética, a Justiça, a Política, o Amor, a Amizade, o Conhecimento, o Saber, o Pensar, a Linguagem, a Arte...  

Talvez por falta da prática filosófica, não nos aprofundamos em questões como:  o que é utilidade? No sentido de servir. E o que é necessidade? No sentido de ser inevitável a nossa vida.  Ou, o que é o Humano, e o que é o Divino? No sentido da existência.

De todo modo, mesmo que o aluno não perceba de início, ao perguntar para que serve a Filosofia? Ele está tendo uma atitude Filosófica, que é justamente perguntar, questionar, problematizar, querer saber, a partir de uma inquietação qualquer. Por isso, ele merece todo respeito e esforço possíveis para ser esclarecido sobre sua dúvida Filosófica.  Aristóteles tem uma bela passagem em seu livro: Protético.

Aristóteles: (384-322 a.C.)

“Se temos de filosofar,

temos de filosofar.

Se não temos de filosofar,

temos de filosofar.

Logo, em qualquer caso,

temos de filosofar”.

Mas, sinto que não basta uma resposta clássica ou tirada dos livros de filosofia. Percebo que é preciso associar a Filosofia às questões práticas da sua vida e de todos nós. É isto que pretendo fazer neste texto, para talvez, mesmo que limitado pela definição e espaço, possa responder ao meu aluno(a) de forma satisfatória e convincente; Para que serve a Filosofia?

Para responder a esta questão vamos seguir minimamente o percurso do pensamento filosófico que começa com:

  1. O Espanto! 

Espantoso! Por quê esta pergunta? Nunca ouvi perguntarem para que serve a Matemática ou a Física ou a Geografia ou as Artes. Também nunca vi estas áreas abordarem este tipo de pergunta e tentarem respondê-la. Claro, se assim fizessem, estariam fazendo Filosofia. Então, por quê se pergunta para que serve a Filosofia? E por que a Filosofia se preocupa em respondê-la? As respostas que me ocorrem, as estas perguntas nascidas do espanto só podem ser; há em cada um de nós uma vontade natural de saber, de entender o que não entendemos, somos Homo sapiens, queremos saber. O desconhecido nos causa Espanto. É aí que começamos a filosofar, a “usar” a Filosofia na prática para descobrirmos o que nos está encoberto e entendermos o que não entendemos. 


  1. A Pergunta!

Perguntar é um ato Filosófico. A pergunta, o questionamento, são atitudes Filosóficas iniciais de quem quer saber. As perguntas são as chaves para abrir a porta que nos convida a entrar na Ágora, na praça do debate e da discussão, as vezes conosco mesmos, onde acontece a reflexão, onde colhemos novos saberes para contrapormos aos que trazemos conosco. A Pergunta é o abre-alas para o desfile do conhecimento, rumo a apoteose do saber. Por isso, não se pergunta para que serve as outras ciências, pois, se, se perguntar, estará entrando na praça da Filosofia. 


Pode-se se dizer que esta é a primeira “serventia”

da Filosofia.

Nos inquietar diante do não-saber,

do ignorar algo! 


Mas, não se trata de qualquer pergunta, a pergunta filosófica é daquelas que busca a origem da coisa que se quer saber. O que é a coisa? É aquela pergunta que busca entender a coisa Como ela é? São aquelas perguntas que buscam as causas, a razão de ser, de existir é o porquê da coisa?  E por último, são aquelas perguntas que querem saber a finalidade da coisa; é o Para quê é?  São estas as perguntas filosóficas. 


Pode-se dizer, então, que esta é a segunda “serventia” da Filosofia. Nos colocar diante das questões que nos espantam e assombram, nos levando pela pergunta, a buscarmos a origem, a definição, a razão de ser, e a finalidade de tudo, para que racionalmente, debatamos e reflitamos sobre as coisas profundamente, na intenção de entendermos o mundo e a nós mesmos.


  1. A Análise Crítica!

Bem, de certo modo, até aqui estamos fazendo um tipo de análise da pergunta feita pelo aluno; para que serve a Filosofia? E, é assim que o Filosofar procede, analisando e separando em partes para avaliar, descrever, identificar os vários aspectos da coisa analisada, sem perder o todo da questão. Mas, e a crítica? Já que a Filosofia exige que a análise seja crítica!. 

Filosofia “serve” para analisarmos

criticamente a realidade,

evitando os (pre) conceitos e discriminações.

A crítica é a avaliação mais ampla e profunda que podemos fazer da coisa analisada, demonstrando os aspectos positivos e negativos e, diante disso, realizar um juízo de valor sintético, porém, aprofundado, de raiz, apoiado na realidade e nas várias implicações existentes. Isso, para não cairmos numa análise superficial, onde normalmente habitam o erro, o engano, os preconceitos e as discriminações. O senso comum por assim dizer. A Crítica é o juízo de valor interno e eticamente correto da coisa analisada, fazendo uma relações com o mundo exterior.

              Separando as partes da pergunta para análise...

O termo servir na pergunta, traz a ideia de útil, utilidade, para que serve a Filosofia? Tem a mesma intencionalidade de; qual a utilidade da Filosofia? 

Pois bem, qual é o aspecto positivo desta ideia? Uma possível é que ao indagar sobre sua utilidade o aluno está querendo saber onde pode usar ou aplicar a Filosofia em sua vida prática, como pode usá-la em seu benefício. No mínimo ele quer entender para quê Filosofia na prática? Qual a sua finalidade, qual a sua utilidade? E isto, é positivo do ponto de vista prático. 

O ponto negativo desta ideia é que, a Filosofia não se usa, só podemos usar o que é um objeto. Mas então, o aluno poderá pensar que a Filosofia não se aplica na prática! O que é um engano que ele ainda não percebeu. Por isso, a necessidade de continuarmos esta análise. 

        4 – O Juízo....

Até aqui, nossa análise demonstrou que para a Filosofia não se aplica a ideia de utilidade. A ideia de utilidade se aplica tão somente aos objetos, pois são eles que têm esta função. Natureza, pessoas, sentimentos, emoções, arte, pensamento, são de outra característica, não podendo ser classificadas como úteis ou inúteis. Pessoas, por exemplo, não podem ser definidas como úteis ou inúteis, assim é também para a razão e o pensamento, assim é para a Filosofia. Logo; a função da Filosofia não é ser útil ou inútil, isto , cabe aos objetos. 

A função da Filosofia é nos ajudar a pensar, a raciocinar de modo correto, amplo e profundo sobre todos os mundos: espiritual, humano, dos fatos, das coisas, da natureza...  Não se pode fabricar uma bomba com a filosofia, ela não tem essa utilidade, esta função. A função da Filosofia é analisar criticamente, pensar e orientar nossas ações mais humanas, é indagar valorativamente. Exemplo: Para quê bombas? Por que há guerras? O que causa a violência? O que é a violência? Como devo agir para evitá-la? Isto é correto? Por quê? É este o caráter necessário da Filosofia, e não o de uso ou utilidade como pensa o senso comum. 

Então, podemos dizer que a Filosofia “serve” para

avaliarmos e julgarmos como as coisas são

ou deveriam ser, como agirmos ou deveríamos agir

na prática, diante da realidade do mundo.

Isto, com base em ideias universais e questões mais

essenciais à humanidade.

        5 – Aprofundando e ampliando a questão.

Até aqui, ainda não respondemos satisfatoriamente o que o aluno quer saber. Que me parece ser; após nossas análises, “se, a Filosofia se aplica a nossa vida prática e em que circunstâncias? ” 

Bem, como vimos a Filosofia não trata das superficialidades da vida, ela pretende ir a fundo nas questões mais essenciais e fundamentais à nossa existência e ao nosso modo de pensar e agir no mundo. Um bom exemplo disso é a aplicação da Filosofia no campo da Ética. 

A axiologia é o estudo dos valores, onde o mais importante é a Ética, uma reflexão filosófica sobre os valores mais humanos que nos leva a consciência do agir correto sobre o mundo da Natureza, da Moral, da Justiça, da Virtude, do Bem, da antiviolência, do fazer político ou seja, sobre nossas ações na vida prática rumo à felicidade e a preservação da própria vida. 

Se, a Filosofia se aplica ao campo Ético

e, a Ética está no campo da vida prática,

então; pode-se dizer que a Filosofia se aplica

a vida prática.

Estas reflexões geram ações práticas nas Leis, na Política, na Moral, na aplicação do conhecimento científico, nos costumes, no Direito, em nossos valores, entre outros. 

Outro exemplo, é a aplicação da Filosofia no campo da ação política. A consciência de cidadania, de justiça, de direitos, próprios dos sujeitos políticos que somos, são práticas da vida cotidiana que se tornam cada vez melhores quanto mais compreendidas e orientadas pelo pensamento Filosófico temos sobre elas.

É nossa ação na sociedade que define a qualidade de vida que teremos. No campo da Política estão: nossos direitos, nossas oportunidades, nossa vida produtiva, acadêmica, cultural, artística, econômica, social, de lazer, de justiça, do conceito e prática da Democracia, que estão na ordem do dia da nossa vida prática. 

Se, a Filosofia se aplica ao campo político e,

a Política está no campo prático,

então; pode-se dizer que a Filosofia se aplica a vida prática. 

Continuando, há um outro exemplo de “serventia” da Filosofia que é o campo do diálogo. Somos seres de linguagem, esta cria mundos imaginários e reais, planos e realizações, são meios de expressão de nossos sentimentos, emoções, paixões, pensamentos e ideias. 

Pela linguagem expressamos nossos desejos, nossas relações sociais, políticas, obtemos conhecimentos e entendemos as lições da Fé, das artes, da História, das angústias e do sofrimento. A linguagem nos oferece a música, a poesia, a ciência, o Direito... E tudo isso se faz pelo diálogo com nossos pensamentos, com o outro ou com todas estas áreas. E isto, é vida prática! Logo:

Se, a Filosofia atua no campo da Linguagem

e, a Linguagem está no campo prático,

então; pode-se dizer que a Filosofia se aplica a vida prática. 

A Filosofia se faz pelo diálogo, pela ação mental e lógica do debate, da dialética, que desfaz as falácias da ideologia dominante. 

Com o uso refletido da Linguagem, criamos, desenvolvemos e analisamos conceitos que servirão de bases para outras áreas. 

Um outro exemplo de “serventia” da filosofia é o campo da Estética, do amor, da amizade. Somos seres de sentimentos e percepções de mundos e expressamos estas percepções, sensações e sentimentos principalmente pelas Artes. É a Estética, razão da sensibilidade.

Somos seres racionais, mas também, somos seres de emoções e paixões, de sensibilidade para com o outro e com o mundo. Passa pela sensibilidade a nossa identidade e solidariedade para com o outro. Passa pela sensibilidade a percepção de que somos iguais enquanto espécie e diferentes como indivíduos. Então:

Se a Filosofia atua no campo da sensibilidade,

e esta faz parte da vida prática,

logo: a Filosofia se aplica a vida prática.

Um outro exemplo de “serventia” da Filosofia é o campo da Lógica, da Ciência e Conhecimento, a Epistemologia

O conhecimento científico (Episteme), talvez seja a maior conquista da nossa capacidade intelectual. Em quatro séculos de ciência moderna, (1700 a 2000 d.C.)  A Humanidade deu um salto de conhecimento em todas as áreas do saber, maior que em todo o período anterior, a contar das civilizações antigas em (3.500 a.c.). 

A Filosofia, junto com os fenômenos da natureza, talvez seja a principal fonte de questões e temas que depois, quase sempre, são pesquisados e desenvolvidos pelas Ciências, como: 

A Neurociência, a Robótica , a Nanociência, a Bioética, os Transgênicos, os Fractais, o Metaverso... são só exemplos do avanço do saber científico moderno.  O conhecimento científico nos tirou das incertezas e enganos das opiniões (Doxa) e nos trouxe para mais próximos da verdade, (Episteme), a partir das indagações da Filosofia.

Se, a Ciência, a Lógica, a técnica e

a tecnologia estão em nossa vida prática e,

a Filosofia participa destas questões,

então; a Filosofia se aplica ao mundo prático.  

Um outro exemplo de “serventia” da Filosofia é a Cosmologia. Área de conhecimento da Filosofia nascente que cuida das questões da Physis ou natureza. 

Hoje esta área se dividiu em Física, Química, Astronomia, parte da Geografia que buscam entender a constituição e origem deste mundo físico. Inegavelmente estas áreas fazem parte de nossa vida prática.

Outro exemplo de “serventia” da Filosofia é a Psicologia. Área oriunda da Filosofia da Mente, (Psique), que investiga a mente humana, desejos, paixões, sentimentos, angústias, prazeres... Questões que fazem parte de nossa vida prática e dizem de nossa personalidade. Os estudos sobre nosso cérebro e mente, como a Neurociência, por exemplo, são fundamentados pela Filosofia da Mente. Então:

Se, a Filosofia se aplica ao campo da Física e da Psicologia

e estas, estão no campo da vida prática,

pode-se dizer que a Filosofia se aplica a vida prática

Outro exemplo é a Antropologia; área de estudo da Filosofia que estuda o problema do pensar e fazer histórico e cultural do homem no mundo...  

É quando perguntamos quem somos nós? Quem é o Humano, o homem? O que é a cultura? Quanto de nós é dado pela natureza, quanto é dado pela cultura e pelos valores? São questões que conversam com todas as áreas em que o ser humano participa. A Biologia, por exemplo, é um braço da Antropologia na medida em que quer saber quem somos e como funcionamos biologicamente.

Outro exemplo bem prático em nossas vidas, é a questão Metafísica. Área de estudo da Filosofia que investiga o SER, a essência, o existir de todas as coisas. Junto dela a questão da Fé, da crença, da espiritualidade e Religiosidade. Logo:

Se, a Filosofia participa da existência do homem

no mundo, em seu fazer e pensar na cultura,

se tudo isso faz parte da vida prática,

então; a Filosofia se aplica a vida prática.

São temas tratados pela Filosofia na Teodiceia ou Teologia. E, embora sejam assuntos ligados a espiritualidade, são também da prática de nossas vidas. Quem é Deus? Deus existe ou nós o criamos? O que é a Fé? 

É a partir destes estudos que a Filosofia elabora suas questões mais originais sobre todas as coisas, como: O que é a coisa? Como é a Coisa? Por que a coisa existe ou não existe? O que faz a coisa ser esta coisa e não outra coisa? Perguntas que nos conduzem no mundo e a vida prática. 

Por último, mesmo que não acabe aqui, a questão que talvez seja a mais universal entre todas para os seres humanos. Aquela que todos, igualmente, buscam por toda vida e que talvez, seja o motivo maior que faz a vida valer a pena.- A Felicidade!.

Está é a grande motivação da existência da Filosofia, a razão de ser de toda a Filosofia desde seu surgimento no Séc. VI. a.c. com Tales de Mileto, chegando principalmente em Sócrates, Platão e Aristóteles no Séc.V.a.c.  

O que estamos procurando no mundo? O que queremos todos nós? Para que vivemos? O que é a Felicidade? Ela existe? Como alcançá-la? Por que buscamos a Felicidade? Como ser feliz? "Uma vida sem reflexão filosófica não é digna de ser vivida"?

São questões práticas que vão muito além das preocupações com as posses, o dinheiro, os bens, o carro, a moto, o celular de última geração, o tênis de marca, a roupa ou a moda. Estas são coisas uteis, a filosofia é uma coisa necessária à existência humana. Podemos dizer que:

Se, a busca da Felicidade

é o motivo maior para viver,

e, se viver é uma a prática.

Então; a Filosofia que é a busca deste caminho

pela razão e pela sensibilidade,

se aplica inteiramente à nossa vida prática.

Assim, deixo ao meu aluno estas indagações para que ele mesmo por sua própria iniciativa busque; a se espantar, sentir, questionar, investigar, analisar, ajuizar, criticar, aprofundar, refletir, pensar e descobrir por sua própria razão a resposta. Na esperança de aplicá-la em sua vida prática, para que se torne cada vez mais, uma pessoa melhor, e depois, contar a todos nós, para que serve a filosofia?

Boa sorte!


Texto Produzido pelo Prof. Westerley Santos. Jun/22




 





quinta-feira, 5 de maio de 2022

Capitalismo x socialismo

 

QUADRO COMPARATIVO


Veja texto com mais detalhes ao lado no menu ( TEXTOS DE APOIO)






FONTE: https://www.diferenca.com/capitalismo-e-socialismo/
https://www.todamateria.com.br/diferencas-entre-capitalismo-e-socialismo/






segunda-feira, 14 de março de 2022

Esquerda e Direita.



 Fonte: https://www.politize.com.br/esquerda-e-direita-historia-teoria/

     Texto sobre o que é Esquerda e Direita (aguardem...)


quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Para que serve a Filosofia?

 



PARA QUE SERVE A FILOSOFIA?

DIÁLOGO

ENTRE O CÉTICO E O FILÓSOFO

 

O cético é aquele que não acredita em nada, ou melhor; é aquele que duvida de tudo. Diferente do filósofo que duvida para descobrir a verdade, o cético duvida simplesmente porque não acredita na verdade.

 ... um certo dia o cético encontrou com o filósofo e logo foi lhe perguntando com um ar cético:

 Cético: - Diga-me, meu caro filósofo!  Para que serve a Filosofia?

 Filósofo—- Bem! Se, o sentido do termo “servir” que empregas, for o mesmo que útil, devo dizer-lhe que a Filosofia não serve para nada.

 Cético -  Eu já desconfiava!

 Filósofo – É que a Filosofia, não é uma Ciência (saber técnico) voltada para as utilidades, para os resultados instrumentais, construção de objetos ou para como as coisas acontecem, ela não é um juízo dos fatos.  A Filosofia é um juízo dos valores, é a Ciência das necessidades humanas.

 Cético – Começou! O que quer dizer isso?

Filósofo - É a busca do sentido das coisas, das causas e origens, dos meios e finalidades universais do homem e do mundo, ela é a busca do princípio uno de todas as coisas, da essência e não da aparência, da verdade e não da ideologia.

 - Dizia Aristóteles: (...) todas as outras ciências serão mais preferíveis que esta, mas nenhuma lhe será superior. ”

 Cético ­- E por que os filósofos usam palavras tão difíceis?

Filósofo – Não é que preferimos usar palavras difíceis, é que a filosofia é um pensar radical, que vai as raízes das coisas, em busca da verdade, sendo assim, as palavras usadas, devem expressar exatamente aquilo que é, e não outra coisa parecida.  Além do mais, palavras expressam conceitos e conceitos expressam idéias, sendo assim, não se pode usar quaisquer palavras para expressar uma ideia, pois, se corre o risco de passar conceitos e ideias falsas, e isso seria impreciso, logo; diferente do que a coisa é. 

           “ Alguém já disse que “iniciar na filosofia é aceitar o desafio das palavras” 

 Cético — E qual é a definição de Filosofia?

Filósofo —- Muitos em 2.500 anos de existência da Filosofia já tentaram responder a esta questão, e nenhum conseguiu expressar em um conceito, o todo que a Filosofia é. Admitem alguns que a Filosofia é um saber verdadeiro que deve ser usado em benefício dos homens... outros a consideram um estudo da sabedoria, do conhecimento perfeito de todas as coisas humanas...

 Outros ainda, que a Filosofia é o conhecimento que a razão adquire de si mesma para saber o que pode conhecer e o que pode fazer rumo à felicidade humana.

 Há também quem a defina como um saber, que deve ser posto em prática na transformação do mundo a fim de alcançar justiça e felicidade, um despertar para ver e mudar nosso mundo.

Aristóteles dizia que filosofar é uma necessidade humana e portanto, inevitável.

Por fim, há aqueles que a define como um caminho árduo e difícil, mas que pode ser percorrido por todos, se desejarem a liberdade e a felicidade.  O certo é que todos esses conceitos acabam por reduzir o verdadeiro significado da Filosofia.

Mas, para simplifica, digo que a Filosofia é um reaprender a ler o mundo em suas letras mais miúdas, interpretando e revelando as verdades mais ocultas desse texto cósmico, a fim de provocar nos homens, o despertar da sua própria consciência. .

  - A Filosofia não é outra coisa, senão, um entregar-se por completo as nossas próprias reminiscências*.(*lembranças da alma, memórias do espírito- Platão)

 

 Cético – E o que estuda a Filosofia?

 Filósofo – Bom! Suas perguntas exigem respostas longas. – Vamos lá: diferente das Ciências que estudam aspectos ou partes de uma realidade, a Filosofia, que não é uma ciência, estuda o todo,  sua pretensão é investigar e compreender a totalidade das coisas, por isso, dizem ser a Filosofia a mãe de todas as ciências, ela é um estudo universal.

Entendido isso, digo que a Filosofia estuda a lógica; que se ocupa com o problema da exatidão do raciocínio, mas não só, ela estuda também:

 A epistemologia; que se ocupa com o problema do conhecimento, a metafísica; que cuida dos fundamentos últimos de todas as coisas, a cosmologia; que investiga a constituição essencial das coisas materiais, a psicologia; que cuida da natureza humana e de suas faculdades mentais, a teodicéia; ou seja o problema religioso, da existência e natureza do divino,  a ética; da origem e natureza da moral, da virtude, do bem e da felicidade, da antiviolência, a política;  origem e estrutura do Estado, e do convívio humano em sociedade,  a estética; o problema do belo, da natureza e da arte,  a antropologia; o problema do pensar e fazer histórico e cultural do homem no mundo...e por fim, a cultura, a linguagem e a axiologia; que é o problema dos valores e princípios humanos. Resumindo é isso! 

 Cético - Mas, o que pretende a Filosofia afinal?

 Filósofo — A Filosofia não pretende outra coisa, senão, fazer com que o homem compreenda e    conheça primeiro a si mesmo, o outro, o mundo, o transcendente e as relações objetivas e subjetivas existentes entre eles. Em outros termos; ela pretende conhecer os princípios e finalidades do homem, do mundo físico e metafísico (para além do físico) para descobrir o sentido da existência de tudo isso.

.  Cético -- Mas, de que modo a Filosofia poderia alcançar esses conhecimentos?

 Filósofo – Pela investigação, a busca na raiz de todas as coisas, pela leitura do todo, pela      interpretação crítica; não só do que está escrito, mas do que está dito e escondido nas entrelinhas desse texto chamado mundo...pela perturbação; causada pelo aparentemente normal, e pela problematização; do óbvio, do comum, do habitual, do cotidiano... pela dúvida crítica, pelo abandono de todo dogmatismo e ceticismo, em fim, pela busca da verdade oculta sob toda ideologia e ignorância.

  Já dizia Jean-Jacques Rousseau: “A filosofia é a condição que o homem precisa para saber observar uma vez, tudo que tem visto todos os dias”

 Cético - Mas, acaso a filosofia dispõe de instrumentos capazes de leva-la a essa finalidade?

Filósofo – Certamente! O instrumento da Filosofia é o exercício do Filosofar. E o Filosofar não é outra coisa senão a capacidade de admirar-se com o que lhe aparece diante dos olhos, é a observação demorada, é o ato de perguntar, de indagar sobre o que é? Por quê é? Como é? Para quê é ? Sobre todas as coisas. Filosofar é colocar a razão crítica à serviço do pensamento, em busca do entendimento lógico da coisa pensada. É o ato de fazer juízos corretos de valor, de reflexão, de abstrai-se, de pensar o pensamento pensado e ressignificá-lo. E por fim, fazer uso da palavra; reverberar! Expressar o resultado alcançado, abrindo para um nov

“A Filosofia surge do diálogo, da reflexão das situações vividas! ”

 Cético — E para quê a filosofia pretende conhecer o homem, o mundo e o transcendente?

Filósofo - O transcendente, para compreender o mistério, a origem e as causas, princípio e fim de todas as coisas que estão para além do mundo físico; - o homem, para entender a finalidade de sua existência-no-mundo; e o mundo, para saber como transforma-lo e melhor realizar a existência humana nele.

 Cético - E qual seria a finalidade da existência-humana-no-mundo?

 Filósofo -Supostamente a felicidade.

 Cético - E se a felicidade não for possível?

 Filósofo - Então, ao menos que saibamos como evitar o sofrimento!

 Cético - E como o homem poderia realizar sua existência-no-mundo?  

 Filósofo -A partir da humanização do próprio homem. da descoberta de si mesmo, de sua relação com o outro da leitura e interpretação corretas do meio em que vive e atua, do despertar da consciência crítica e de sua formação como sujeito (ser de ação, de consciência ética , de liberdade e responsabilidade). 

 Em um só termo: por meio da virtude e do conhecimento; da consciência e da liberdade de escolha; da vontade de ação para o bem.

 Segundo Aristóteles, a felicidade está na mediania, no meio-termo, nem na falta, nem no excesso. É aí que reside a felicidade humana”.

Cético Então, diga-me; como o homem poderá se tornar humano (sujeito consciente) querer e agir na direção do bem em um mundo de tanta maldade, violência e individualismo?

Filósofo -A premissa maior de toda Filosofia é que o bem habita em cada homem. Nenhum homem é nasce mal... Se não praticas o bem é porque desconhece verdadeiramente o bem. A questão é de ignorância, de não consciência do bem, e não de ser mal. Nenhum homem há de preferir o mal conhecendo verdadeiramente o bem. Por isso a filosofia busca a verdade.

-     E é o despertar da consciência de sujeito que tornará cada um, capaz de fazer girar a roda da virtude ou seja, (do bem, da justiça, da ética, da sabedoria) justamente o que nos torna humanos.

-           

           “Ser humano é reconhecer no outro, a sua própria humanidade”. Sócrates dizia que, aquele que tem a ciência (conhecimento) e a     sabedoria (virtude), há de querer invariavelmente o supremo bem, (a felicidade e a liberdade.) 

 

Cético —-Pois então meu caro! Responda-me esta última pergunta e me darei por satisfeito.

 O que poderá provocar esse despertar da consciência de que tanto fala a filosofia, para que homens se tornem sujeitos, livres de toda ignorância, preconceitos, ideologias, dogmas e ceticismos e passem a agir com retidão ética no caminho da virtude e da verdade, que pelo que entendi, visam a felicidade humana e o bem-viver?     

 Filósofo - Não vejo outra coisa, senão, a Filosofia.

 Cético – Será?

 

 

Texto produzido por:

Prof. Westerley   Santos/ Filosofia