domingo, 25 de setembro de 2011

MINAS ANUNCIA A MORTE DA POLÍTICA



Minas, Estado que insurgiu contra a tirania da coroa, que esculpiu em seu símbolo maior a inscrição Liberdade, valor supremo equiparado somente ao vital valor da vida, ironicamente é o primeiro da república democrática a decretar pelos atos do seu governador, a morte da arte política.

O século XXI separou a técnica da arte e no sentido moderno, elegeu a tecnocracia como doutrina geral a nortear as relações entre Estado e sociedade, e sinalizou fortemente que o próximo alvo a ser preterido seria a Política, entendida no seu nobre sentido original, como nos legou os Gregos. - Política como arte e ciência de bem governar, mas também como atividade do cidadão pertencente a Polis. Modo de bem conduzir a coisa pública, habilidade no trato das relações humanas, atividade conciliadora dos conflitos gerados pelo confronto entre as intenções ou interesses, individuais e coletivos, pessoais e institucionais, legais e morais.

A política é a protetora da Democracia, talvez o mais extraordinário legado nos deixado pelos gregos, que perceberam rapidamente que tal modo de vida,  e nenhum outro, só se sustentaria se, sua prática fosse realizada por homens virtuosos, conscientes de seu agir no mundo e livres, primeiro de toda ignorância. E imediatamente entenderam que a virtude era algo que se podia aprender, e para que os cidadãos a aprendessem criaram a skholé; escola, casa de cultura e lazer, onde se dava a Paidéia: cultura construída a partir da educação, para que o indivíduo, governante ou governado, pudesse ser digno e assim exercer na polis a plenitude da vida em sociedade.

Parece que Mineiros como Itamar Franco, Tancredo Neves e Juscelino, ainda que contestáveis em alguns momentos fizeram valer a verdadeira política, mantiveram a máxima de que não são os gregos o nosso passado, mas sim nós é que somos o futuro dos gregos. Pelo menos honraram nos dias atuais, o princípio original da política, deixado pelos gregos antigos. Mas, infelizmente, pelas mãos do atual governador, a tecnocracia acaba de assassinar a política em Minas.

O mais alardeado programa dos oito anos de governo do Sr. Aécio Neves (PSDB), foi o famigerado “Choque de Gestão”- métodos de gerência assimilados da iniciativa privada que teve como foco a redução de despesas – que no caso de Estado, significa corte de investimentos sociais- e na segunda fase,  gestão para obtenção de resultados baseados na qualidade e na produtividade – que na prática, significou a meritocracia incentivada por concorrência e segregação entre funcionários e instituições, criando ilhas de qualidade como escolas referência que receberiam investimentos enquanto a maioria necessitada nada recebiam. Um plano de governo orientado e gerenciado pela iniciativa privada, um  Instituto de planejamento empresarial, chamado PUBLIX e INDG – Instituto de Desenvolvimnto Gerencial.

Mas, o homem do governo, para gerenciar e implementar o tal plano, foi um tecnocrata. O Sr. Antônio Anastásia (PSDB), Secretário de Estado de Planejamento e Gestão (2003 a 2006), o que lhe rendeu a promoção para vice governador (2007-2010) até que o ilustre desconhecido recebeu o bônus do poder de uso da coroa e hoje ocupa o palácio, sentado na cadeira de chefe maior do Estado, sobre a proteção do manto e do cetro do Sr. Aécio Neves.  

Mas, o tecnocrata é o algoz da política quando entende o Estado como uma empresa e substitui  cuidar por administrar, quando tem a visão de que os recursos do povo são para negócios, e não do povo e para o povo. Não os aplicam em saúde, segurança e educação, pois entende que aplicações nestas áreas são gastos e não investimentos. Gasta sim, com estádios, prédios administrativos ou aviões particulares, pois o tecnocrata não entende que o bem estar do cidadão é a razão de ser da política.

Mata a política quando abandona o diálogo com o cidadão e usa a mídia, a justiça e os demais poderes como funcionários obedientes as suas ordens. Não percebe que a autonomia dos três poderes são os vértices de uma figura de equilíbrio perfeito que forma o símbolo estampado na bandeira de Minas.

O tecnocrata mata a política, quando deixa professores em greve de fome, sem salário e alunos há mais de cem dias sem aulas, quando não respeita leis sociais, pois só reconhece leis de mercado, e não atende reivindicações de sindicato, pois não sabe fazer política. Para ele, pessoas são números, e professores são peças que cumprem uma função mecânica e por isso podem ser substituídos a qualquer custo por qualquer um, que não haverá perda para a qualidade da educação, nem para alunos, nem para professores e nem para a sociedade.

E caso haja, basta um marketing nas redes de TV, com dinheiro público, que a imagem institucional da empresa melhora aos olhos do povo despolitizado por falta de uma educação de qualidade que valorize antes, o professor.

Após anos de agonia a política em Minas está morta, há 107 dias, e o cortejo está passando pelo MP, TJMG e ALMG. O caixão será velado no salão nobre do palácio da liberdade.

O povo não está convidado!

Um comentário:

  1. Essa desvalorização por essas profissão é um absurdo, pois com isso por exemplo na maioria dos casos o profissional é obrigado até procurar um segundo emprego para aumentar a sua renda.

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