a
atualidade do pensamento de Nietzsche
Nos
escritos de juventude, como a II Consideração intempestiva – Da
utilidade e desvantagem da história para a vida; III Consideração
intempestiva – Schopenhauer educador e Sobre o futuro dos nossos
estabelecimentos de ensino, estão presentes as críticas de
Nietzsche à educação de seu tempo.
Nesses
escritos, o filósofo mostra-se preocupado com a cultura de sua
época, com a supervalorização da história, com a formação para
o mercado de trabalho, a cultura jornalística, etc. Esses e outros
fatores, segundo Nietzsche, fizeram com que a cultura não agisse em
favor da vida, que o conhecimento se tornasse apenas algo no interior
de quem o possui, sem ação prática.
Essa
preocupação com a cultura moderna, ou com a falta dela, fez com que
Nietzsche pensasse a formação de sua época, e, consequentemente, a
educação de seu tempo. As críticas de Nietzsche à
superficialidade educacional de seu tempo, já estão preconizadas na
obra Sobre a filosofia universitária, de seu “mestre”
Schopenhauer. Nesta, duras críticas são feitas ao ensino estatal
de filosofia: “pode ser uma coisa muito útil, desde que sirva para
adequar melhor os estudantes aos fins do Estado, como também firmar
na fé o público leitor; mas vender isto por filosofia é o mesmo
que vender uma coisa por aquilo que ela não é” (2001, p. 86).
-Na
esteira do pensamento schopenhaueriano, Nietzsche se ocupa em tecer
críticas aos estabelecimentos de ensino de seu tempo, alertando para
o fato de que estes não podem formar indivíduos para a verdadeira
cultura, para o pensamento. Isto porque, essas instituições estão
a serviço de alguns interesses, como os comerciais, estatais, ou os
de uma falsa bela forma. Servindo a esses interesses, a educação
passa a ter um caráter utilitário, de formação para o mercado de
trabalho, para a obediência ou para a formação rápida de
pseudo-cultos, os eruditos, uma geração que Schopenhauer define
como “completamente paralisada no espírito, tornada incapaz para
todo o pensar” (2001,p. 58),
Pensando
em nosso tempo, em nossas atuais condições de ensino, se temos como
objetivo potencializar o ensino contra a mera formação utilitária
para o mercado de trabalho ou para a obediência se queremos um
ensino para o pensamento e para a cultura, mesmo dentro de
instituições escolares atreladas aos interesses do Estado, se a
sala de aula pode ser um lugar de exercício da resistência e da
liberdade, apesar dos sistemas de controle que estão sempre à
espreita, devemos pensar em como fazer para que nossas aulas de
filosofia se comprometam com a criação de novas formas de vida, com
o exercício criativo do pensamento e com a formação cultural dos
estudantes.
Se,
para Nietzsche, o ginásio, ou o nosso ensino médio, deve ter como
principal objetivo o ensino da língua materna, o aprender a ler e
escrever artisticamente, em contraposição à escrita técnica dos
especialistas e jornalistas, acreditamos que o ensino de filosofia
tem um papel fundamental nessa empreitada. Este seria um espaço em
potencial para a leitura dos clássicos linha por linha, o que faz
com que problematizemos a adoção de livros didáticos na aula de
filosofia, esses materiais que “facilitam” o acesso dos
estudantes aos clássicos.
Partindo
da ideia nietzschiana de exame rigoroso dos clássicos e de “tratar
o vivo como vivo”, acreditamos ser um tanto quanto problemática a
adoção dos livros didáticos
como textos centrais nas aulas de filosofia. Os livros didáticos de
filosofia, em geral, apresentam de forma enciclopédica o pensamento
dos filósofos, de uma maneira rápida, que Nietzsche chamaria de
jornalística. Nos livros didáticos não estão presentes o
pensamento do filósofo, mas interpretações simplificadoras com
vistas a ser absorvido de forma rápida pelo estudante, para que ele
possa se munir do conhecimento necessário que o habilite a ter
acesso ao mercado de trabalho. Assim, o livro didático se assemelha
à forma em que Nietzsche via o jornal em seu tempo, como algo que
“substitui a cultura” (2007, p. 65), que toma o lugar do gênio
para passar informações rápidas e momentâneas.
Em
um livro didático não está presente o pensamento do filósofo, o
porquê de este filosofar, as suas inquietações, as suas angústias,
mas uma redução deste pensamento apresentado apenas em forma de
resultados. Desse modo, o saber se torna apenas mais um conhecimento
a ser interiorizado e reproduzido pelo estudante. Não há aí um
movimento do pensamento, um filosofar.
Em suma, o que pretendemos com o ensino de
filosofia está muito próximo do que propõem Gallo e Kohan (2000,
p. 195): “que todo jovem, ao ter contato com a filosofia, possa
desenvolver experiências de pensamento, aprendendo a reconhecer e a
produzir, em seu nível, conceitos, a fazer a experiência da crítica
e da realidade sobre a sua própria vida, a desenvolver uma atitude
dialógica frente ao outro e ao mundo e, fundamentalmente, possa
aprender uma atitude interrogativa frente ao mundo e a si mesmo”.
Ver texto na íntegra em :
http://www.sbpcnet.org.br/livro/63ra/conpeex/pibid/trabalhos-pibid/pibid-eduardo-ferraz.pdf
Autores:
Eduardo Ferraz FRANCO, Carmelita
Brito de Freitas FELÍCIO
Faculdade de Filosofia -
Universidade Federal de Goias
eferrazfranco@hotmail.com;
carmelaf@terra.com. br
_____________________________________________________________________________
Notas:
Nos
escritos de juventude, como a II Consideração intempestiva – Da
utilidade e desvantagem da história para a vida; III Consideração
intempestiva – Schopenhauer educador e Sobre o futuro dos nossos
estabelecimentos de ensino, estão presentes as críticas de
Nietzsche à educação de seu tempo.
Referências bibliográficas
GALLO, Silvio; KOHAN, Walter Omar.
Crítica de alguns lugares-comuns ao se
pensar a filosofia no ensino
médio. In:
GALLO, S; KOHAN, W.O. (Orgs.). Filosofia
no ensino médio. Petrópolis:
Vozes, 2000.
NIETZSCHE, Friedrich. Escritos
sobre educação. Rio de Janeiro: Edições Loyola,
2007;
________. Segunda consideração
intempestiva: da utilidade e desvantagem da
história para a vida. Rio de
Janeiro: Relume Dumará, 2003.
SCHOPENHAUER, Arthur. Sobre a
filosofia universitária. São Paulo: Martins Fontes,
2001.
Fonte de financiamento: CAPES –
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior / Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Para facilitar, você pode postar como anônimo e se não se importar identifique-se (Texto com até 4096 caracteres)