CRÔNICAS
FILOSÓFICAS PARA ADOLESCENTES
A DOR DO CRESCIMENTO
OU
A
PRIMAVERA DA EXISTÊNCIA
C
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omo já demonstraram os Psicólogos e os
Hebeatras¹ , a adolescência é uma fase da nossa vida de verdadeira
revolução pessoal. O corpo em mutação acelerada parece querer alcançar seu
estado de maturidade física à força. Haja vista, que os adolescentes, de
maneira geral, não têm muita percepção do seu desenvolvimento corpóreo, que é
diário e rápido o que provoca uma ‘descoordenação’ motora que sempre lhes causa
embaraços. Tropeçam e esbarram nas coisas, deixam cair objetos, gritam e tagarelam
sem parar e, quase sempre, estão insatisfeitos com alguma coisa. Os professores
que digam quando em bando, entram em sala trombando nas carteiras, arrastando
as mochilas, derrubando o material escolar, falando alto e esbarrando nos
colegas. - A desmedida é a sua marca.
Os hormônios em plena erupção incitam a aventura; a adrenalina
solicita o perigo, o andrógeno e o estrógeno afloram a sensualidade, e a libido
provoca a sexualidade à flor da pele. Iniciam quase ao mesmo tempo em várias
atividades; natação, línguas, música, teatro, capoeira, academia, não continuam
em nenhuma. - Querem viver tudo ao mesmo tempo agora! Mas, a inconstância é sua
constante.
No meio de tudo isso, a consciência
ainda em formação, não consegue compreender o que está acontecendo ao seu redor
e as dúvidas de toda ordem, tomam seus pensamentos como fantasmas que os
assombram dia e noite.
Olham no espelho e a cada manhã uma
surpresa se lhe apresenta; parece que aquele a quem está vendo hoje, não é o
mesmo que viu ontem. Meu nariz cresceu? Minha boca é torta? Sou homo ou hetero
? Sou feio ou bonito? Sangue bom ou não? Minhas amigas e amigos gostam de mim?
Sou ciumento, possessivo ou apenas gosto de mais? O que vou fazer no
vestibular? Quero namorar ou ficar? Shopping ou academia? Balada ou virada?
Isso está certo ou errado? - Quero liberdade, mas não tenho autonomia! Quero
ser adulto, mas não quero deixar a adolescência! O que eu faço? Quem sou eu
afinal? - A dúvida é sua companheira de toda hora.
E subitamente o mau-humor toma sua
face e a angústia seu espírito, e então, se tranca em seu refúgio e de lá só
sai quando percebe que ninguém o está percebendo, ou melhor; finge não
percebê-lo. - Quer atenção! O universo gira a seu redor e os maiores problemas
do mundo se encontram todos, dentro do seu quarto totalmente desarrumado. Alias,
seu quarto, quando se tem um, é o retrato fiel de sua cabeça; quando organizado,
retrata seu bom humor, mas no minuto seguinte a desordem invade sua vida, e as
tormentas sua alma. E o que os adultos em sua ignorância chamam de rebeldia,
não passa de uma ação involuntária e necessária do crescimento. - Ah! Como dói
crescer.
E não é para menos, há no corpo e na
mente do adolescente uma criança há muito conhecida sua e, por todos, cuidada e
protegida, uma amiga de longa data que agora se despede se esvaindo no
sumidouro do espelho, no mesmo instante em que um ser adulto, grande,
desengonçado, desconhecido e responsável por si mesmo, vem surgindo com toda
força, sem pedir licença para chegar e sem lhe perguntar se quer se transformar
nele.
_ Um sujeito estranho parece querer sair de mim, travo com
ele uma luta corpórea, mas também mental, por que quero evitar seu surgimento,
pois sei que me transformarei nele para sempre.
E então, a adolescente luta contra sua própria natureza e debate
contra si mesmo, renega o inevitável, digladia contra seus opressores que,
quase sempre, é sua própria consciência lhe alertando para a nova jornada que
deve seguir em sua vida, sem lhe dar opção de escolha. – E! O inexorável tempo
parece ser seu inimigo mortal.
O corpo dói, as manchas espalhadas por
toda pele se desfazem lentamente, somem as espinhas, só a mente confusa e
fatigada denuncia a dor do crescimento que passa em meio a toda esta tormenta.
A dor vai se desfazendo e não a sinto mais como antes... Eis que embora
diferente já me reconheço no espelho! Vejo surgir de mim um belo e disposto jovem,
pronto a enfrentar a nova vida com toda força e ternura da juventude. Está ele
na plena primavera da própria existência.
_ Há! Se os adultos entendessem que
não se pode apressar o tempo.
Prof.
Westerley
Prof.
Filosofia.
TEMA: Adolescência.
1Hebeatra: Especialidade Médica que trata da adolescência.
Hebe; na mitologia Grega é a Deusa da Juventude.