terça-feira, 24 de março de 2015

CRÔNICAS FILOSÓFICAS PARA ADOLESCENTES

CRÔNICAS  FILOSÓFICAS  PARA  ADOLESCENTES
 
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"A DOR DO CRESCIMENTO"
OU
A PRIMAVERA DA EXISTÊNCIA
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C
 omo já demonstraram os Hebeatras¹, trata-se de uma verdadeira revolução pessoal. O corpo em   mutação acelerada, parece querer alcançar seu estado de maturidade à força. Os sentimentos, as     emoções, parecem brincar de esconde-esconde com a própria mente...
 
12:00h... De maneira geral, ela não têm muita percepção do seu desenvolvimento corpóreo, que é diário e rápido, o que provoca uma ‘descoordenação’ motora que sempre lhes causa embaraços... Tropeça e esbarra nas coisas, deixa cair objetos, grita e tagarela sem parar e, quase sempre, está insatisfeita com alguma coisa. - A desmedida é a sua marca.  

14:30... A libido provoca a sexualidade à flor da pele. Os hormônios, em plena ebulição incitam a aventura. A adrenalina solicita o perigo, o andrógeno e o estrógenio, ligam-se e afloram a sensualidade. Ainda não sabe o que é ou o que quer ser. E sonha, na eternidade de um instante, em ser tudo que se pode ser! 

Inicia quase ao mesmo tempo em várias atividades; o futebol na rua, o volei na esquina, natação, línguas, música, teatro, capoeira, academia, e não continua em nenhuma. - Quer viver tudo ao mesmo tempo agora! - A inconstância é sua constante!

16:30.. No meio de tudo isso, a consciência ainda em formação, não consegue compreender o que está acontecendo ao seu redor e as dúvidas de toda ordem, tomam seus pensamentos como fantasmas que à assombra na interminavel noite nebulosa.

22:15... Vira para o lado e olha no espelho meio embaçado e a cada imagem de si mesma uma surpresa se lhe apresenta; parece que aquela a quem está vendo hoje, não é a mesma que viu ontem. Meu nariz cresceu? Minha boca é torta? Sou homo ou hetero ? Sou feia ou bonita? Minhas amigas e amigos gostam de mim? Sou ciumenta, possessiva ou apenas gosto demais? O que vou fazer no vestibular? Namorar ou ficar? Isso está certo ou errado? 

Não sei nada de Matemática! Amanhã vou perguntar a júlia como ela acabou com aquela espinha que ela tinha...

Quer liberdade, mas não tem autonomia! Quer ser adulta, mas sem deixar as brincadeiras de criança! Quer liberdade, mas sem as responsabilidades? O que eu faço? Quem sou eu afinal? - A dúvida é sua companheira de toda hora.

23:00... Subitamente o mau-humor toma sua face e a angústia seu espírito, e então, se tranca em seu refúgio e de lá só sai quando percebe que ninguém a está percebendo, ou melhor; fingindo não estar. - Quer atenção! O universo gira ao seu redor e os maiores problemas do mundo se encontram todos, dentro do seu quarto totalmente escuro e desarrumado. Alias, seu quarto, quando se tem um, é o retrato fiel de sua cabeça; quando organizado, retrata seu bom humor, mas, no minuto seguinte a desordem invade sua vida, e as tormentas continuam a perseguir sua alma.

- E o que os adultos em sua ignorância chamam de rebeldia, não passa de uma ação involuntária e necessária do crescimento. 

E não é para menos, ela carrega ainda no corpo e na mente, uma criança irriquieta há muito conhecida sua e, por todos cuidada e protegida, (ou ao contrário), uma amiga de longa data que agora se despede se esvaindo no sumidouro do espelho, no mesmo instante em que um ser adulto, grande, e de cara fechada, desconhecido seu e responsável por si mesmo, vem surgindo com toda força. 

- E sem pedir licença para chegar, lhe toma todo o espaço e todo o tempo de diversão, sem lhe perguntar se quer ser ele ou não. - Quém é esta no espelho?- Indaga-se, a sí mesma! 

23:30... No rolar na cama e no abraço ao travesseiro, pensa: Um estranho parece querer tomar meu lugar... Tô com medo! 

- Trava com ele uma luta corpórea, mas também mental. Quer evitar seu surgimento, pois sabe que se transformará nele para sempre.

E então, ela luta contra sua própria natureza e se debate contra si mesma, renega o inevitável, digladia contra seus opressores que, quase sempre, é sua própria consciência lhe alertando para a nova jornada que deve seguir em sua vida, sem lhe dar opção de escolha. – É! O inexorável tempo parece ser meu inimigo mortal.

00:00... O corpo se ajeita, as manchas espalhadas por toda pele se desfazem lentamente, somem as espinhas, só a mente confusa e fatigada denuncia a dor que se dá em meio a toda esta tormenta. - A dor vai se desfazendo e não a sente mais como antes. - Adormece aos poucos, de mãos dadas a si mesma...

6:30... O sol nasce na janela e a desperta! - É de manhã. Levanta de supetão, antes mesmo do despertador tocar. Eis que embora diferente, já se reconheçe no espelho! - Vê uma bela jovem, pronta a enfrentar o novo dia com toda força e ternura da juventude. 

Se arruma enquanto conversa consigo mesma de olho no relógio. Penteia os cabelos, abotoa seu uniforme, pega as pressas os sapatos de saltos altos que estão ao lado do All-Star surrado e esquecido desde ontem, toma um café rápido, olha para trás e não se ver mais ninguem no espelho. 

-Se despede: com licença, tenho que ir trabalhar, começo hoje! - E a Adolescencia se foi! 



 Há! Se os adultos entendessem que não se deve apressar o tempo da adolescencia!

Prof. Westerley
Prof. Filosofia.
TEMA: Adolescência.
1Hebe; na mitologia Grega é a Deusa da Juventude
Hebeatra: Especialidade Médica que trata da adolescência.