Qual a importância de se
ensinar filosofia?
HELENO FLORINDO DA SILVA –
Doutor em Direitos e Garantias Fundamentais e professor da Faculdade Multivix
Cariacica
Qual
a razão de ter de ensinar filosofia a nossos adolescentes e jovens? Qual a
razão desses adolescentes e jovens terem de aprender filosofia?
Essas
são perguntas que rotineiramente permeiam os bancos das escolas (e, vez ou
outra, bancos mais “ilustres” como os do Congresso Nacional ou os do Ministério
da Educação), mas que precisam ser mais bem compreendidas e assimiladas, a
começar por sua própria racionalidade.
Se
repararem as palavras “ensinar” e “aprender” aparecem destacadas nas perguntas
acima, pois será mesmo que temos a capacidade de ensinar e de aprender
filosofia?
Sob
uma perspectiva etimológica, a palavra filosofia vem do grego philos ou philia
– que quer dizer amor/amizade – e sophia – que significa sabedoria – ou seja,
literalmente, filosofia pode ser vista como o amor/amizade pela sabedoria,
sendo filósofo todo aquele que exercita esse amor/amizade.
Sabendo
disso e voltando às indagações acima: será mesmo necessário ensinar nossos
adolescentes e jovens tal filosofia? Sua aprendizagem se faz necessária?
A
resposta para todas essas indagações é um rotundo “sim”.
Estruturar
uma disciplina de filosofia por meio de uma matriz curricular e de métodos
próprios não é algo identificado por todos os teóricos como correto, pois, para
alguns filósofos, a filosofia é entendida como o estudo, a busca pela
compreensão e análise das mais variadas inquietudes, anseios, medos e problemas
existenciais da humanidade, seja individual e coletivamente.
No
entanto, ao realizarmos essa estruturação, não necessariamente devemos obedecer
aos ritos, métodos, técnicas ou padrões do modelo de ensino formal, pois
qualquer pessoa pode ser um filósofo.
“Não
são as respostas que movem o pensamento filosófico, mas, ao contrário, são as
perguntas, as dúvidas” Desse modo, ao se debruçar sobre os valores morais,
políticos, sociais e, por que não, éticos, do conhecimento em suas mais
variadas formas de manifestações e conceitos, com objetivo de alcançar a
construção de uma verdade (sempre, paradigmaticamente, provisória) acerca de
algo inerente à vida humana, esse indivíduo terá a liberdade necessária para se
desenvolver pelos meandros do pensamento filosófico.
De
modo que, ao reduzirmos a compreensão e o estudo da filosofia aos minutos de
uma aula, uma vez por semana, estaríamos encapsulando o que deveria ser livre,
ou seja, o amor pela sabedoria não pode ser reduzido aos minutos semanais do
formalismo do ensino escolar.
Contudo,
mesmo tendendo a concordar com tais autores, que não aceitam o encapsulamento
da filosofia nas formalidades metodológicas do ensino escolar, não posso deixar
de destacar que é nas aulas de filosofia, mesmo aquelas formalizadas no intuito
de ensinar filosofia, que o senso crítico – que me permite concordar ou não com
uma premissa racional qualquer – passa a ser mais facilmente formado.
Enquanto
o ensino das ciências duras (por exemplo, matemática, física, química)
restringe o desenvolvimento da criticidade no sujeito pensante, as ciências
humanas, sobretudo a filosofia, ao contrário, o capacitará – por meio dos
debates e autores estudados – desenvolver sua capacidade de questionamento.
Não
são as respostas, portanto, que movem o pensamento filosófico, mas, ao
contrário, são as perguntas, as dúvidas, o não saber, aquilo que nos serve de
ponto de interrogação.
Sem
as aulas de filosofia, por exemplo, muito provavelmente o senso crítico por
trás desse texto, não teria se construído com a capacidade de, por um lado,
concordar com a crítica destacada acima, acerca do ensino formal e
metodologicamente arbitrário da filosofia, que mitiga seu espírito emancipador,
e de outro, entender que mesmo assim, o ensino da filosofia é indispensável
para a construção de um espírito humano altivo, empático e, sobretudo, livre.
Fonte:
https://especiais.gazetaonline.com.br/guiadoensino/2019/qual-a-importancia-de-se-ensinar-filosofia/