Novas disciplinas na educação básica dividem opiniões do Legislativo e Executivo 29 de janeiro de 2015
Clipping Educacional – 29.01.2015
Agência Senado - Revista Gestão Universitária – 28/01/2015 – Belo Horizonte, MG
Os
senadores devem votar em 2015 várias propostas que incluem disciplinas à
grade curricular dos ensinos fundamental e médio ou, pelo menos, tornam
obrigatória a discussão sobre determinados assuntos nas já existentes.
Apesar das boas intenções das iniciativas de lei, o Ministério da
Educação (MEC) não vê com bons olhos a criação de tantas disciplinas
obrigatórias além das que já são ministradas nas escolas.
Durante
a tramitação do PLS 2/2012 — que aguarda análise da Câmara dos
Deputados e torna obrigatória a inclusão de disciplinas de ética no
ensino fundamental e médio — o MEC divulgou nota técnica argumentando
que a aprovação desse projeto não traria a solução mais adequada para
tratar dos temas da ética e da cidadania no ambiente escolar.
a
nota, o MEC relembrou que os documentos orientadores dos currículos
“não sugerem a criação ilimitada de disciplinas nem de conteúdos, mas
sim que a escola oportunize condições para que temas socialmente
relevantes sejam incluídos e tratados no desenvolvimento dos conteúdos
escolares”.
Seguindo
a mesma linha, no relatório pela rejeição do PLC 20/2012 — que
pretendia inserir o ensino de história em todas as séries do ensino
médio — a senadora Maria do Carmo Alves (DEM-SE) apontou como
“controversa” a inclusão de disciplinas ou componentes nos currículos da
educação básica pela via legislativa. Essa tarefa, lembrou, compete à
União, na figura do Ministério da Educação e do Conselho Nacional de
Educação, em parceria com os demais entes federados.
Ao
defender a rejeição à proposta, que a seu ver já é colocada em prática,
a senadora lembrou que a amplitude curricular do ensino médio vem sendo
apontada como uma das causas do desempenho insatisfatório de grande
parte dos alunos dessa etapa, oprimidos por uma “perspectiva
enciclopédica”, distante das necessidades cotidianas da vida e orientada
apenas para os exames de admissão ao ensino superior.
“Não
é por outra razão que o MEC e as secretarias estaduais vêm discutindo a
reformulação dos currículos do ensino médio, que poderia se organizar
em grandes áreas do conhecimento, com trajetórias forjadas a partir de
escolhas dos próprios alunos”, argumentou no relatório. A matéria ainda
aguarda análise da Comissão de Educação (CE).
Além
de iniciativas dos próprios parlamentares, a maioria dos projetos em
tramitação no Senado é fruto de sugestões feitas pelos alunos do ensino
médio participantes do Projeto Jovem Senador, o que pode indicar lacunas
que eles detectam, na prática, na grade curricular a que são submetidos
no sistema educacional. A senadora Maria do Carmo defendeu urgência na
busca por novas formas de tornar o ensino mais atrativo e relevante para
os alunos.
Projetos
Embates
à parte, há no Senado projetos que pretendem incluir mais matérias nos
currículos escolares. É o caso do substitutivo da Câmara ao PLS
180/2004, que obriga os sistemas de ensino a garantir o ensino de libras
e de outros métodos de comunicação como o sistema braile (para cegos) e
o tadoma (para pessoas que são simultaneamente surdas e cegas). A
intenção da autora, a ex-senadora Ideli Salvatti, é auxiliar os
estudantes com deficiência ou transtornos globais de desenvolvimento,
altas habilidades e superdotação no acesso ao conhecimento.
Esse
projeto, originário do Senado, foi modificado na Câmara e, por isso,
retornou para nova análise dos senadores. As alterações já foram
aprovadas por várias comissões e agora só falta o aval do Plenário, de
onde seguirá para a sanção da presidente Dilma Rousseff. Além de inserir
disciplinas, o substitutivo também modifica o sistema de educação
especial, que passa a ser apenas complementar ou suplementar, e promove a
educação inclusiva ao impor o ajuste do ensino regular às necessidades
das pessoas com deficiência.
utra
proposta prevê também a inclusão do ensino de libras no currículo do
ensino fundamental, preferencialmente do sexto ao nono ano e por
professor habilitado em libras. O PLS 449/2013 é originário de uma
sugestão feita por integrantes do Programa Jovem Senador. Também
originário do Programa é o PLS 261/2012, que inclui nos currículos do
ensino médio, em caráter opcional e fora do horário regular, a
disciplina princípios de pedagogia, com vistas a estimular vocações
docentes. As matérias aguardam análise da Comissão de Direitos Humanos e
Legislação Participativa (CDH).
Transversalidade e interdisciplinaridade
Há
ainda propostas que pretendem tornar obrigatória a discussão de certos
temas nas disciplinas já existentes. Um dos projetos em tramitação é o
PLS 515/2013, que determina a inclusão, a partir do sexto ano do ensino
fundamental, do tema transversal cidadania, uma maneira de conhecer as
leis brasileiras e os direitos e deveres dos cidadãos. O PLS 183/2012
também prevê a realização, no ensino médio, de ciclos de debate
bimestrais sobre a realidade social e política brasileira, com o convite
feito a agentes políticos ocupantes de cargos eletivos.
O
PLS 235/2013 prevê a oferta de uma língua estrangeira já a partir do
quarto ano do ensino fundamental. Hoje, a obrigatoriedade é a partir do
sexto ano. Essas três matérias vieram de sugestões do Projeto Jovem
Senador. As sugestões dos jovens senadores são analisadas pela CDH e
acatadas e transformadas em projetos de lei ou rejeitadas.
Já
o PLS 74/2012, da senadora Ivonete Dantas (PMDB-RN), quer incluir nos
currículos do ensino fundamental e médio, “conteúdos, adaptados a cada
faixa etária, relativos à prevenção da violência contra a mulher, a
criança e o idoso e aos mecanismos de proteção estabelecidos pela
legislação para esses segmentos populacionais”.
Para
a autora, a verdadeira mudança cultural necessária para modificar o
quadro de violência do país depende da educação. Por meio dela, se
formarão novos cidadãos, defensores de uma cultura de paz e de igualdade
entre os sexos. Todos os projetos foram objeto de requerimento de
tramitação em conjunto e aguardam análise da CDH e da CE.
Leis
específicas que complementam a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(LDB) já determinam, atualmente, a inclusão de temas relativos ao
trânsito, ao meio ambiente e à condição e direitos do idoso. Outros
assuntos que afetam a vida humana em escala global, regional e local
como saúde, sexualidade e gênero, vida familiar e social, direitos das
crianças e adolescentes e preservação do meio ambiente também já
integram os currículos.
Câmara
Outras
propostas relativas a disciplinas da educação básica já passaram pelo
Senado e aguardam aval da Câmara dos Deputados para serem enviadas à
sanção presidencial e entrar em vigor. É o caso do PLS 2/2012, que torna
obrigatória a inclusão de duas disciplinas de ética nos currículos
escolares: Cidadania Moral e Ética para o ensino fundamental e Ética
Social e Política para o ensino médio.
O
autor, o ex-senador Sérgio Souza, aponta a discrepância entre a boa
colocação do Brasil no campo econômico e os elevados índices de
corrupção e ineficiência da Justiça, situação que, em seu ponto de
vista, pede uma política educacional voltada para a formação moral e
ética das crianças brasileiras.
A
inclusão do esperanto — idioma criado no final do século 19 pelo russo
Ludwik Lejzer Zamenhof — como disciplina optativa para os alunos do
ensino médio também está prevista no PLS 27/2008. Já o empreendedorismo
pode virar um componente extracurricular das escolas dos ensinos médio e
profissionalizante caso o PLS 273/2006, do ex-senador Marcos Guerra,
seja aprovado na Câmara dos Deputados.
Educação básica
A
educação básica no Brasil compreende a educação infantil (creche e
pré-infantil, até os 5 anos), as séries iniciais do ensino fundamental,
do primeiro ao quinto ano (de 6 a 10 anos), a segunda etapa, do sexto ao
nono ano (de 11 a 14 anos), e as três séries do ensino médio (de 15 a
17 anos). O período mínimo de atividades letivas é estabelecido pela Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 800 horas anuais
distribuídas em, no mínimo, 200 dias de trabalho escolar.
Os
currículos de todas as etapas são formados por uma base nacional comum,
complementada em cada sistema de ensino (estados, municípios e Distrito
Federal) e em cada estabelecimento escolar por uma parte diversificada.
Muitas sugestões de inclusão de disciplinas referem-se a essa parte
diversificada.
Os
alunos da primeira etapa do ensino fundamental estudam: arte (incluindo
música), ciências, educação física, geografia, história, língua
portuguesa, matemática e ensino religioso (facultativo). Já os
estudantes do sexto ao nono ano estudam todas essas e mais duas: inglês e
espanhol.
Os
alunos do ensino médio estudam mais disciplinas, por conteúdos que se
tornam específicos nessa etapa: língua portuguesa, matemática, arte
(incluindo música), química, física, biologia, geografia, história,
filosofia, sociologia, mídias, educação física, inglês e espanhol
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